Dossiê Movimentos e Lutas Sociais do Campo
Dossiê elaborado durante a disciplina "Educação e Movimentos Sociais do Campo" do Programa de Pós Graduação em Educação do Campo, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. O objetivo desta página é socializar os materiais encontrados de forma a montar um acervo virtual sobre as lutas sociais do campo ocorridas na Bahia, Minas Gerais e Maranhão (estados que estão representados pelos estudantes no Mestrado).
quarta-feira, 28 de novembro de 2018
quinta-feira, 16 de novembro de 2017
Raça e Diversidade na Escola
Gidelmo Santos
de Jesus[1]
RESUMO
Este estudo pretende desenvolver uma abordagem reflexiva dos processos
das relações de raça dentro da escola, procurando estabelecer uma reflexão que
busca compreender como educadores e educadoras desenvolvem formas de
estabelecer um trabalho que vise superar todas as formas de discriminação no
espaço educativo. Para isto, analisamos como a história do Brasil foi sendo
construída na marginalização dos negros e negras e assim se reproduzindo na
escola, bem como, o processo de construção da legislação do país para garantir
o acesso educacional aos sujeitos, sejam eles brancos, negros, pardos, enfim a
todos. A base deste estudo se deu por meio de contribuições teóricas de vários autores que realizaram artigos e
bibliografias sobre as questões raciais na escola. Além disso, a pesquisa também se deu por meio
de diagnósticos que foram realizados na referida escola com os educadores/as e
com alguns funcionários da direção e apoio, procurando desenvolver uma
valorização das relações de raça e estudar como tais relações tem se dado no
espaço da escola para o desenvolvimento da igualdade. Diante disto,foi
identificado como estas relações tem se desenvolvido nas práticas pedagógicas
dos educadores em sala de aula e como esta temática tem sido abordada pela
escola nas suas práticas de trabalho a contemplar os conceitos de raça,
igualdade racial e direito, considerando as relações dentro do espaço
educativo.
PALAVRAS-CHAVE:
Espaço educativo. Raça. Diversidade.
- INTRODUÇÃO
A
escola é um espaço onde o cidadão se encontra em constante formação e
aperfeiçoamento do conhecimento vivenciado na sociedade, como relata Leite e
Freire (2008, p. 01) "A escola é uma extensão da sociedade, onde as
crianças manifestam a sua realidade de relações diversas, apresentando questões
recorrentes quanto à formação do sujeito e seu lugar na sociedade". Porém,
nem sempre, a escola está preparada para desenvolver um trabalho que possa
estabelecer relações entre os sujeitos que valorize as relações raciais, e às
vezes sem querer, até alimenta certos preconceitos e discriminação entre os
sujeitos, principalmente entre educandos.
No decorrer da história da educação no Brasil, estas relações foram se
dando de forma a desenvolver uma marginalização dos sujeitos como podemos ver
na abordagem deste trabalho.
Nos
dias atuais é importante desenvolver um estudo desta temática, uma vez que, a
sociedade anseia e valoriza as iniciativas que contribuem para uma maior
igualdade racial. Entendemos que a escola é um espaço fundamental para se
desenvolver o debate e também a prática destas relações de igualdade entre os
povos. Ao abordar este tema, esperamos poder contribuir para a reflexão, o
desenvolvimento e a valorização de ações pautadas na busca de novas maneiras de
tratar a questão no âmbito escolar, possibilitando que educandos(as),
educadores(as), enfim, todos os que compõem a escola sejam protagonistas na
valorização dos sujeitos, independentemente de cor ou raça, visto que, a
igualdade é um dos principais princípios, ou pelo menos deve ser, das lutas e
organizações sociais.
A
principal relevância deste trabalho se dá como suporte de um trabalho que visa
trazer à tona um processo da igualdade dentro do espaço educativo e, assim,
construir novas relações para com os sujeitos dentro deste espaço. Alem disso,
pretendemos alertar educadores e educadoras para novas formas de condução dos
problemas relacionados a esta temática.
Nesse
sentido, o trabalho se estrutura da seguinte forma: primeiro, é abordado um
breve relato da história da educação no Brasil para compreendermos como a
escola ainda é um espaço que na maioria das vezes marginalizam e inferiorizam
por meio de suas práticas, pessoas por serem negras. Para isto é preciso
compreender como este processo foi gestado na história do Brasil, o qual foi
desenvolvendo um processo de educação que garantisse os interesses de uma
classe dominante.
Consequentemente
a este processo histórico procuramos relatar como as leis educacionais foram
sendo estruturadas no nosso país, fazendo com que os negros e negras fossem
sendo excluídos deste processo e, não só eles, mas também, todos aqueles que
com bravura construíram este país. Sendo eles deixados de lado, sobretudo dos
direitos educacionais, assim como de diversos outros direitos.
Nos
dois últimos tópicos será anunciada uma análise de como tem sido abordada as
relações de raça dentro da escola, seja por meio das aulas dos educadores e
educadoras no dia-a-dia da sala de aula, seja por meio de projetos que buscam
estabelecer estas relações, considerando as formas como a escola encara estas
relações para garantir a igualdade racial.
Este
estudo com base observatório das práticas dos educadores em sala de aula e no
cotidiano da escola a partir de características apresentadas pelos autores
sobre as relações de raça na escola e sua abordagem e, também, com observação
direta, foi possível construir um
questionário que envolverá a problemática do tema, relacionando a prática em
sala de aula com formação e a vivência dos educadores entre si e com os
educandos(as). Este questionário foi à
base direta de relação com a prática dos educadores e educadoras.
A
caracterização da pesquisa se deu na delimitação da Escola Municipal Zumbi dos
Palmares, a partir dos métodos de análises das pesquisas bibliográficas e da
observação direta na escola, tendo como base, diversas correlações com as
teorias abordadas pelos autores para a realização de um estudo interpretativo e
analítico.
- BREVE
HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: OS POVOS A MARGEM DO DIREITO
A
escola e todos os processos de educação no Brasil se deram marginalizando
pessoas consideradas “inferiores” diante dos anseios das diversas classes
sociais. A esse cenário, no período de colonização do Brasil – de 1500 a 1822 –
a educação destinada aos marginalizados daquele período, no caso os nativos,
tinham a principal função de “domesticar os índios” para a exploração da mão de
obra escrava, ou seja, para garantir pela catequização que os nativos obedecessem
em nome de Deus os interesses dos portugueses, assim "a função da escola
era a reprodução das relações de dominação e a reprodução da ideologia
dominante"(SOARES, 2002, p.19). E foi assim por mais de dois séculos. Em
alguns casos, quando os jesuítas passam a desenvolver uma educação
humanizadora, vem então a perseguição e a substituição dos jesuítas por um novo
sistema de ensino português.
Esse
longo período de colonização inclui diversas transformações e com elas o
processo da educação não é uma realidade da nação brasileira, ou seja, o povão
que construía a nação não tinha acesso a educação, quer dizer, é um processo
vindo de Portugal já que continuava
dependente de Portugal, assim também, a educação. Os negros trazidos da África
que também, e porque não dizer principalmente, sofreram para a construção deste
país no período colonial, como nos relata Jesus:
Os
negros, assim como os índios, também sofreram com a colonização do Brasil. Eles
trabalhavam em todas as etapas da produção do açúcar e nos serviços domésticos.
Sofriam de maltrato e não tinham direito à educação. O mundo da senzala era o
mundo da exclusão, os negros eram violentados, trabalhavam pesado, usavam
farrapos e eram submetidos a uma má alimentação. (JESUS, 2002, p.28)
Com
a vinda da família real de Portugal para a colônia e para manter os serviços
básicos à nobreza, então são criados os primeiros cursos acadêmicos do Brasil.
Quase nada muda com o grito da independência, visto que, "[...] a
Constituição de 1824 apenas continha princípios gerais sobre a gratuidade da
instituição primária para todos os cidadãos e uma referencia geral aos colégios
e universidades"(SOARES, 2002, p.21). Assim, a educação do Brasil é
mantida pelo império conservador nas linhas políticas da metrópole, quer dizer,
o povo continuava sem acesso a educação.
Com
a Proclamação da República a educação do povo era fundamental para garantir as
oligarquias dos coronéis no poder, haja vista, que o voto só era permitido a
pessoas alfabetizadas. Nesse sentido, os coronéis investiam na alfabetização
dos explorados de suas fazendas para garantir o voto para ele próprio, ou para
alguém de seu interesse.
A
educação pelo voto e pela escola foi instituída por eles como a grande arma da
transformação evolutiva da sociedade brasileira, e assim oferecida em caução do
progresso prometido pelo republicano: a prática do voto pelos alfabetizados e,
portanto, a freqüência a escola que formaria o homem progressista, adequado aos
tempos modernos, é que tornaria o súdito em cidadão ativo. (HILSDORF, 2006,
p.60)
É
oportuno salientar, que os coronéis mantinham o poder a partir dos que não
tinham outra opção a não ser votar no “coroné”, como cantou o rei do baião,
Luiz Gonzaga:
NAS ELEIÇÕES
Êi Sertão, sertão das futricas
Sertão dos políticos enganador, ein deputado
A gente chega neles assim nos comícios: Dia 3 todo mundo lá. Todo mundo lá, ninguém sabe em quem votou hihihi. Sabedoria a ler. Não voto neste homem não que ele é rico.
- Vai votar em quem Pedro?
- No coroné.
- E pra deputado?
- No coroné.
- E pra senador?
- No coroné.
- Pra deputado?
- Coroné.
- Pra presidente da república?
- No coroné.
Sertão dos políticos enganador, ein deputado
A gente chega neles assim nos comícios: Dia 3 todo mundo lá. Todo mundo lá, ninguém sabe em quem votou hihihi. Sabedoria a ler. Não voto neste homem não que ele é rico.
- Vai votar em quem Pedro?
- No coroné.
- E pra deputado?
- No coroné.
- E pra senador?
- No coroné.
- Pra deputado?
- Coroné.
- Pra presidente da república?
- No coroné.
Continuando
a garantir os interesses de uma classe dominante a finalidade da educação por
volta da década de 1880 passa a se dá de forma a preparar os alunos para o
trabalho qualificado, garantindo assim a qualificação da produção cafeeira.
Nesse
contexto em que estava colocada a educação nacional, os negros ex-escravos
continuam sem acesso a educação, pois até mesmo nos registros da história da
educação do Brasil, pouco se fala da educação destinada a esta camada da
população que foi deixada de lado desde sua “libertação” em 13 de maio de 1822.
Inclusive pelo contexto em que viviam não se achavam no direito de freqüentar a
escola. Assim, as escolas sempre estiveram vazias de negros(as) por muito
tempo, imagine um professor negro nesta época, não existia.
Até
então a escola não desenvolvia o seu papel social de renovadora da sociedade brasileira no enquadramento liberal (HILSDORF,
p.80, 2006). E somente nas décadas de 20 e 30 do século XX a partir do
surgimento das idéias da Escola Nova, não como um projeto de nação, mais com as
idéias importadas para construir “de cima
para baixo” o povo adequado a nação (HILSDORF p.83, 2006). Sendo a Escola
Nova então, um movimento de repolitização e não de despolitização,
desenvolvendo assim um ensino nacionalista para a formação de uma nova pátria.
A
Era Vargas, deu continuidade ao processo de nacionalização do Brasil ou seja, o
país ainda respirava ares portugueses de quem foi colônia, sendo preciso
construir um sentimento de nação sem necessitar seguir leis e princípios da
antiga metrópole. Assim a educação continua em seus moldes conservadores com
conjuntos de idéias de construção de uma educação nacional. Vargas e Campanema
criam assim a nova educação com a idéia de promover os valores atribuídos à
família, a religião, a pátria e ao trabalho, porem desenvolvendo praticas de
educação autoritárias. Desenvolvendo então mobilizações deste período que vão
desencadear numa educação voltada para o progresso da industrialização do
Brasil e da modernização da sociedade urbana como estabelece Soares:
Essas
mobilizações e pressões se manifestaram num novo dualismo: ensino profissional
e ensino secundário. O primeiro destinados aos pobres a fim de formar mão de
obra para a indústria, comercio e agricultura. O segundo para a elite condutora
do país. (2002, p.23)
Com
o golpe militar de 1964, a educação passou por vários processos de
transformação e reformas que a desenvolve um grande negocio com a
intensificação da educação privada, garantindo assim a intensidade do regime
autoritário, com isso perseguindo os intelectuais da educação e do pensamento
liberal, pondo-os na clandestinidade. Alem disso, O sistema educacional foi reorientado para produzir mão de obra nos
três níveis: respectivamente barato, técnicos de nível médio e de formação
superior(SOARES, p.26, 2002).
Chegamos
ao século XXI com um processo de disputa da educação que ainda marginalizam os
povos do direito ao acesso a educação e aos bens públicos. Pois mesmo com o
crescimento e a valorização dos direitos humanos, os negros ainda são
marginalizados do processo de educação, senão não seria necessário criar cotas
para inserção dos negros nas universidades. Isso é um processo que nos mostra
que os negros ainda não são aceitos em nossa sociedade, e isto, é remetido ao
processo de discriminação de crianças negras no espaço educativo, a escola. Por
isto, a luta dos negros é pela garantia dos seus direitos a educação que até
então se deu num processo excludente.
Na
educação, os negros e negras estão reivindicando o direito de ampliar a sua
participação nas escolas e nos cursos superiores. Isto tudo tem haver com a
política de educação excludente do nosso país. Contudo, como relata Hiilsdorf
no final de sua obra que “o mercado está
decidindo os rumos da educação nacional, segundo os seus próprios critérios, os
quais já foram denunciados exaustivamente como não representativos dos
interesses gerais da nação”.
Diante
deste processo histórico de desenvolvimento da educação nacional do Brasil que
foi sendo construído a partir dos interesses de uma classe dominante, sempre
marginalizando os pobres, os trabalhadores do campo, as mulheres e os negros,
foi se criando no espaço educativo o processo de discriminação dessas classes,
principalmente de negros, que se perpetua até os dias atuais.
2.1 RAÇA E LEIS
EDUCACIONAIS NO BRASIL
As
questões de raça dentro da escola no Brasil é um processo que vem sendo tratado
desde os tempos remotos da nossa história, como vimos no item anterior, isso
porque as leis brasileiras não se deram de forma a garantir este direito para
esta população que arduamente contribuiu para a construção desta nação. Assim,
são perpetuados dentro da escola diversos conflitos a partir da discriminação
de pessoas por serem negras. Isso dentro de um
espaço que deveria ser um facilitador e conscientizador dos direitos dos povos
sem distinção de cor ou raça.
Segundo
Dias os casos de racismo são “geralmente
tratados como casos isolados e individualizados e não como produto de uma
sociedade na qual o racismo é estruturante das relações sejam elas, sociais, de
trabalho ou como vimos escolares” (p.01, 2001). Com isso podendo perceber
que dentro da escola são diversos os processos que fazem com que as crianças
negras se sintam rejeitadas do processo em construção, e isto se dá pela
abordagem dos livros didáticos, pela relação pedagógica de professoras(es)
negras(os) e seus alunos(as) e vice-versa, o tratamento de professoras(es) com
as crianças negras(os) e brancas(os) e, as possíveis metodologias de ensino que
abordem esta temática na sala de aula. Sem assim se importar que a escola é
aberta para todos Nela não há ricos ou pobres, católicos,
protestantes ou ateus, pretos, brancos ou amarelos, filhos de imigrantes
recém-chegados ou filhos de aristocráticas famílias tradicionais: nela há
apenas seres humanos, pessoas ou projetos de pessoas (Dias, p.03, 2004).
Enfim, é um espaço para todos os indivíduos em busca do direito a educação.
Tomando como
base a analise de Dias, podemos perceber que as leis pouco interessam, e na
pratica sempre se distingue da realidade e da situação em que é estabelecida,
pois as punições necessárias sempre foram sendo ignoradas. Assim, ao invés de
resolver a situação posta faz ou fazia vista grossa ao que está colocado, mesmo
porque pelo que podemos perceber o problema está na raiz, pois nos livros
didáticos, por exemplo, as figuras fazem referencias apenas a processos dos
brancos, e os negros só aparecem como inferiores, enfim, entre outros processos
como relatamos acima. Contrariando a lei:
No caso do projeto de Lei nº4.024
aprovado em 1961 está posto no Título I – Dos Fins da Educação Art.1º, alínea g
- A Educação nacional inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
solidariedade humana tem por fim:
Alínea g-A condenação a qualquer
tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa,
bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raça.
Inspirada no liberalismo a LDB -
4.024/61 trazia a tentativa de conciliar duas posições que dividiam as
discussões de educadores e demais interessados na educação. Se os recursos
públicos iriam ou não sustentar as escolas privadas e confessionais. De forma
secundária, portanto, a lei trata como um de seus fins a condenação a quaisquer
preconceitos de classe e de raça. [...] O que podemos depreender destes
discursos é que, raça fez parte das preocupações dos educadores e foi uma
dimensão considerada no universo da discussão da LDB. (Dias, p.03, 2004).
Portanto,
era preciso um estudo maior destas leis, para que façam a conhecer por toda a
população, pois na maioria das vezes as pessoas não reivindicam seus direitos
por falta de informação ou por na pratica não desenvolver este processo de
igualdade na educação.
A LDB – Lei de
Diretrizes e Base da Educação Nacional – lei N° 9394 de 1996, gestada após a chamada Constituição de 1988,
pós-abertura política e intensa movimentação da sociedade civil (Dias,
p.04, 2004), começa a ser discutida em 1986 e tem intensidade em 1987. Dando
assim maior visibilidade as questões de raça a partir de dois importantes
acontecimentos para o processo de igualdade: o Centenário da Abolição em 1998 e
o tricentenário da Morte de Zumbi dos Palmares em 1995. Ambos vivenciados com
grande intensidade pelo movimento negro em todo o Brasil, com diversos eventos
para “comemorar” tais datas, tendo a educação um importante atenção. Inclusive
“obrigando” os legisladores a avançar no que está posto sobre raça em relação à
LDB 4.024/61, onde a igualdade de raça não é estabelecida de forma especifica,
más estabelecido da seguinte forma no
Capítulo VII Da Educação Básica no
Art.38 inciso III orienta que os
conteúdos curriculares deverão obedecer às seguintes diretrizes:
“III - o ensino da História do
Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas, raças e etnias
para a formação do povo brasileiro”. (DIAS, 2004, p.05).
Percebe-se assim
que é insuficiente para garantir a igualdade de raça dentro do espaço educativo.
No entanto o avanço da lei N° 9394/1996 se dá em diversas circunstâncias
garantindo assim uma maior liberdade de direitos raciais, como por exemplo
retirando o Título II - Dos princípios e Fins da Educação Nacional da lei
4.024/64 que condenava o preconceito de raça, más incluindo na lei 9394/1996 no
Art.3 inciso IV de - respeito à liberdade
e apreço a tolerância. (LDB, p. 08, 2010). Assim, garantindo uma maior
abrangência do direito pelo termo tolerância. Alem disso, a lei 9394/96 mantém
o Art.32, no parágrafo terceiro a garantia às comunidades indígenas da
utilização de suas línguas maternas bem como processos próprios de
aprendizagem.
Um outro avanço
foi a criação da lei nº 10.639 que altera a lei nº 9.394/96, nos seus artigos
26, e 79, que torna obrigatório à inclusão no currículo oficial de ensino a
temática História e Cultura Afro-brasileira, sancionada pelo Presidente Luis
Inácio Lula da Silva e pelo Ministro Cristovam Buarque em 09 de janeiro de
2003. Porem, a lei que abrange o currículo, não se restringe apenas a
disciplina de história, por exemplo, mais todo o sistema o que na pratica não
funciona. Pois na maioria das vezes os educadores(as) das outras disciplinas
acham que é uma atribuição apenas do professor e da disciplina de historia, não
havendo assim um trabalho de preparação e adequação pedagógica para fazer
cumprir a lei. É ainda mais grave esta situação pela falta de
interdisciplinaridade dentro da escola, pois torna mais difícil ainda
desenvolver um trabalho onde as praticas são isoladas e os conteúdos meros
reprodutores dos livros didáticos que também não abordam a temática de raça, e
quando abordam são apenas tópicos sem uma preocupação maior no que se refere a
igualdade entre as relações de raça, na escola, na sociedade, enfim, na vida
dos sujeitos que estão sendo formados e na maioria das vezes são reprodutores
de discriminação e preconceito para com os negros e negras, os quais também
passam a reproduzir certos comportamentos.
O que precisa
ser observado em todo o conjunto das praticas educacionais são os processos da
legislação e como ela tem sido estabelecida para que assim seja desenvolvida
pelo sistema de educação, havendo assim um maior processo de fiscalização do
cumprimento das leis, pois o que vemos, é apenas a criação de leis e mais leis,
sem uma maior fiscalização de suas implementações.
2.2
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA ESCOLA
É preciso
que o sujeito esteja preparado para compreender os aspectos da vida em que ele
se encontra. Neste caso, em que é preciso haver uma valorização das praticas
histórico e cultural do povo brasileiro como um todo, mais especificamente dos
negros oriundos do povo africano, por isso, é que percebemos que não há uma
abordagem da temática História e Cultura afro-brasileira na escola, e
quando feito é encargo apenas do professor de história. No entanto precisa-se
desta abordagem para uma maior compreensão dos modos de vida da sociedade nos
dias atuais, pois a escola, como diz Freire, é o espaço de formação para a
vida. Alem do mais, a mesma homenageia o principal protagonista da luta dos
negros – Zumbi dos Palmares.
A importância do estudo desta temática dentro da
escola deve se dá pela valorização da cultura afro brasileira, tentando
impulsionar a garantia da Lei 10.639 dentro do processo educativo como um todo,
e não apenas como conteúdo da disciplina de história ou das ciências sociais.
Alem disso, é possível perceber que a escola ainda não incorporou em suas
praticas educativas a valorização da historia e da cultura afro-brasileira, apesar
de existir experiências isoladas que na maioria das vezes não são expostas como
importante no conjunto da escola ou do sistema de ensino. Ou ainda é uma
abordagem apenas feita na semana da consciência negra, ou seja, o 20 de
novembro ainda é visto apenas como data comemorativa no calendário escolar, sem
uma maior compreensão da importância desta para a cultura do nosso país.
Conforme
Freire (1996, p. 22), ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua produção ou sua construção, é algo mais que um verbo
transitivo-relativo e que aquele que ensina também aprende, “Ensinar
inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que,
historicamente mulheres e homens descobriram que era possível ensinar” (FREIRE,
1996, p.23/24). Portanto, a educação tem que se pautar nestas idéias, onde haja
a valorização do sujeito e no meio que ele está inserido, e isto, tem que
partir da prática dos educadores, que sejam praticas que busquem esta
valorização, então procurando estabelecer uma valorização dos sujeitos e,
principalmente da historia destes. Quer dizer, por meio da valorização da
história e da cultura afro-brasileira, a escola, através do desenvolvimento
pedagógico, deve estabelecer uma abordagem que garanta uma maior compreensão e
valorização desta cultura dentro da nossa sociedade.
Outra
compreensão no processo da educação que nos favorece nesta abordagem é feita
por Arroyo, que estabelece um entendimento de tais relações nas praticas
educativas a qual é o fundamento da construção do sujeito em suas dimensões na
construção de sua identidade. É nas práticas que se reconhecem sujeitos,
onde se refletem como espelho. Onde se reconstroem sua identidade. Na medida em
que as propostas inovadoras dão maior centralidade aos mestres como sujeito da
inovação escolar e curricular, maior destaque é dado às práticas. (ARROYO,
2000, p. 230). Com isso, pode-se perceber que os educadores se destacam, ou
devem se destacar, como protagonistas da inovação curricular, para uma maior
centralidade das práticas, o que no cotidiano da escola em questão ainda não é
uma realidade plausível, ou seja, estas praticas não tem se concretizado.
Assim, o papel do educador é formar e preparar
sujeitos para enfrentar os desafios da sociedade em que estamos inseridos,
tendo como base todas às dimensões do ser humano, com isso procurando
estabelecer os vínculos e as relações que existem no cotidiano da escola, no
caso a valorização dos negros/as bem como da sua história e manifestações
culturais. Sendo então o educador peça fundamental para o desenvolvimento da
educação, por isso, responsável direto pela valorização da cultura na vida dos
seus educandos.
Nestas
perspectivas é que deve se dar a abordagem proposta pela Lei 10.639, uma
vez que, é a partir da prática, que educadores/as devem estabelecer uma
valorização da cultura afro-brasileira dentro da escola e, consequentemente, da
sociedade.
2.2.1
Abordagem
Pedagógica nas Relações de Raça
Vimos nos tópicos anteriores que o
processo de educação no Brasil foi construída com muita luta e por meio da
marginalização dos sujeitos. Contudo o processo de lutas que foram sendo
desenvolvidos no decorrer da história foi construindo novos rumos para este
processo. Assim, tratar de educação racial e das relações raciais dentro da
escola ainda é um desafio para educadores e educadoras, visto que, mesmo
existindo as leis que buscam fazer com que haja a igualdade de raça e
diversidade dentro do processo educativo, pode-se perceber que ainda existe nos
espaços escolares a discriminação e a marginalização por conta da cor da pele.
Nesse processo podemos abordar também a
deficiência de informação e/ou formação dos educadores(as) que lidam com
crianças e adolescentes de grupos e origens diversas. Porem, na maioria das
vezes, os educadores e educadoras não estão preparados para enfrentar estas
situações, bem como de outras diversas, uma vez que, no que se refere à
formação estes educadores e educadoras relatam uma deficiência no sentido de
que o processo de escolarização da grande maioria se deu por meio de processos
educativos, no qual, eles/as foram sendo formados por meio da necessidade de se
escolarizar e assim se submeteram a processos de formação extremamente intenso,
sem muita oportunidade de discutir ou ampliar o conhecimento em certos temas,
como a relação de raça dentro da escola, por exemplo, ou seja, na maioria das
vezes, os educadores não são formados para lhe dar com certas situações dentro
da sala de aula. Tendo assim uma formação técnica para a abordagem de conteúdos
e não das formas de convivência entre sujeitos de origens diversas, ficando de
mãos atadas para resolver certas situações dentro da sala de aula e da escola
como um todo.
Pelo que podemos perceber, apesar das
dificuldades encontradas, há iniciativas para amenizar tais situações de
discriminação e preconceito. É possível encontrar professores que buscam por
meio de textos e exemplos trabalhar formas de conscientização, buscando fontes
que o ajudem a expor a situação de como foi sendo resolvido na história do Brasil
a questão do negro e por isso a desigualdade que foi se criando. Contudo, estas
iniciativas não é generalizada, mas são trabalhos isolados dentro da própria
sala de aula, ou seja, não são formas que são desenvolvidas de forma geral com
todos os educadores(as) e educandos(as).
Alem disso, podemos considerar
iniciativas como o trabalho com projetos em torno da temática, principalmente
em torno do 20 de novembro, quando se comemora o Dia Nacional da Consciência
Negra. No entanto, tais projetos às vezes são trabalhados apenas para comemorar
o dia da consciência negra, sem um aprofundamento no restante do ano letivo.
Porém, há muitas reclamações por parte dos educadores/as de que não há apoio
pedagógico necessário para desenvolver projetos que ajudem a resolver os
problemas relacionados a diversidade de raça e ao processo de igualdade racial
dentro da escola.
Se considerarmos a abordagem das
questões de raça dentro dos livros didáticos, estes deixam a desejar e muito, visto
que, a Lei 10.639 torna obrigatório o ensino
de História e Cultura Afro-Brasileira (Benjamim, 2004) no Ensino
Fundamental e Médio. No entanto, o que podemos ver, são apenas questões
isoladas desta abordagem, sem uma preocupação de trazer para os educandos(as)
de como desenvolver uma prática de igualdade dentro do seu convívio social e
principalmente escolar. Na maioria das vezes, ainda deixam esta temática apenas
para a Disciplina de História, não sendo uma preocupação do conjunto da escola
e de uma prática que garanta a multidisciplinaridade. Enfim, não conseguimos
perceber na escola, práticas que estabeleçam as relações com esta lei
2.2.2 Processo
de igualdade racial na escola
Diante da
abordagem feita até aqui, foi possível perceber que o processo de igualdade
racial dentro da escola ainda é uma questão gritante, uma vez que, o que
podemos ver é que os educadores e as escolas ainda não estão preparadas/os para
lidar com certas situações de discriminação, seja ela de cor, raça, orientação
sexual e outras tantas situações.
No entanto,
dentro da abordagem que estamos fazendo das relações de raça dentro da escola,
podemos afirmar que estas relações ainda são de preconceitos e discriminações
para com as pessoas negras dentro do espaço escolar. Nesse sentido, os
educadores/as sentem-se sem muitas alternativas para resolver os problemas
existentes dentro da escola. Contudo, muito já se avançou, no entanto, como é o
caso de professores que buscam desenvolver projetos em sala de aula para
demonstrar a igualdade entre os povos, puxando a discussão para os direitos
iguais dentro da sala de aula e da sociedade.
Mesmo estando no
século XXI, ainda podemos encontrar crianças dentro da escola que se recusa a
sentar ao lado de outra criança negra e ainda o discrimina com bordões
preconceituosos que se reproduzem de uma sociedade preconceituosa onde o ser
humano branco é quem tem os melhores destaques dentro da escola e quando uma
criança ou adolescente negro(a) se destaca ainda somos obrigados a ouvir dos
colegas ou até mesmo de professores as frases “Ele é negrinho, mais é
inteligente” “é negrinha mais é bonitinha”, entre outras que se pode ouvir no
espaço da escola, que não nos interessa reproduzi-los. Sem contar também, que a
própria criança e/ou adolescente também se acha retraído por sua cor,
reproduzindo estes preconceitos sobre si mesmo. Sabemos, claro que algumas
dessas ofensas são inconscientes, pois, as pessoas ainda reproduzem estas
formas de preconceito por fazerem parte de uma sociedade em que o sujeito negro
foi sendo deixados a margem da sociedade e dos direitos. No entanto, percebemos
também que há um certo bloqueio das pessoas em querer aceitar que todos somos
iguais e que o que está acima de tudo é um ser humano. Alem disso, há pessoas
que não buscam valorizar o outro, até mesmo.
- RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Foi possível
estabelecer neste estudo diante das fontes estudadas que o processo das
relações de raça dentro do espaço educativo – a escola – ainda é uma relação
que alimenta preconceitos, não apenas por parte dos educandos/as, mais também
de profissionais da escola, que talvez por falta de informação continuam a
reproduzir termos pejorativos para com educandos de pele escura.
Sabemos também que
é um processo em construção e, diante da realidade em que vivemos no país, é
uma situação que para ser superada ainda leva tempo, pois deve se dar gradual e
continua. No entanto, é preciso realizar um trabalho intenso e não apenas
deixar para ser trabalhada em datas comemorativas, mais que deve ser embutido
no cotidiano da escola esta valorização das relações de raça, e não só, mais
todos os tipos de relação interasocial, para que estudantes e profissionais vão
superando os preconceitos de cor e raça, assim como de outros preconceitos, já
que ainda vemos no espaço educativo, preconceitos de gênero e geração, entre
outros. No entanto a escola deve ser um espaço de relações e não de divisões
entre homens e mulheres, negros e brancos, “pobres e ricos”, seja nas
brincadeiras, nos jogos e, sobretudo na sala de aula.
No princípio
pretendíamos realizar um dialogo com os profissionais da escola, sobretudo
professores e direção, por meio da aplicação de um questionário, no entanto,
não tivemos retorno da maioria dos questionários que entregamos para estes
responderem. Porem a abordagem ficou por conta da analise dos questionários que
retornaram como também tivemos a oportunidade de observar, por meio das
praticas cotidianas da escola, na sala de aula, nos espaços de recreação, de
lanche, entre outros espaços, as relações existentes nela, o que nos ficou
claro a constatação feita neste trabalho, de que as relações de raça assim como
de gênero e geração, ainda é um problema a ser superado.
- CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Diante do que pretendíamos abordar
dentro do estudo das relações de raça e da escola, por meio da leitura das
fontes que acessamos, acreditamos que conseguimos alcançar o nosso objetivo
trazendo o foco das questões raciais dentro da escola, principalmente, fazendo
uma analise do que foi proposto. No entanto, não foi um processo fácil, pois as
fontes disponíveis, principalmente na realização dos questionários, não tivemos
empenho por parte de alguns profissionais que demoraram, ou mesmo nem
responderam ao questionário, o que na maioria das vezes dificultou o processo
de construção de algumas idéias.
Foi possível perceber que na prática as
relações raciais dentro do espaço educativo ainda é uma questão gritante, uma
vez que, grande parte dos educadores/as não estão preparados para lhe dar com
tais questões. Além disso, também não se comprometem em buscar ajuda. Sem contar
também que na sala de aula existe até um certo respeito, porém fora dela se
banaliza, quer dizer, mesmo estando dentro do espaço educativo em momentos de
intervalo ou de locomoção no transporte escolar as relações entre educandos/as
não se desenvolve de forma respeitosa. Podemos concluir então que o trabalho em
sala de aula não tem suprido esta necessidade, visto que, na maioria dos casos
o educador/a só se responsabiliza da porta da sala para dentro com a sua aula
fechada sem se abrir para as relações com o todo da sociedade.
Diante de tudo isso, este trabalho nos
possibilitou um maior entendimento das questões raciais não apenas dentro da
escola, como também, na sociedade, visto que, apesar de vivermos em uma
localidade em que as discriminações não são visíveis no cotidiano, pela
pesquisa e pelo estudo, fica claro que muitas das ações que estamos acostumados
a ter contato, são processos discriminatórios dos negros e negras.
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[1]Licenciado em História pela Universidade Federal
da Paraíba; Especialista em Residência Agrária (Agoecologia, Questão Agrária,
Agroindústria e Cooperativismo) pela Universidade Federal de Sergipe;
Especialista em Metodologia do Ensino de História pelo Centro Universitário
Leonardo da Vince; Especialista em Educação do Campo pela Faculdade São Braz; e
Aluno Especial do Curso de Mestrado em Educação do Campo pela Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia. Email: gsjmst@yahoo.com.br
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
quinta-feira, 17 de agosto de 2017
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