UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA
CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES - CFP
CURSO LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
CRISTINA
SUEDY DOS SANTOS SOUSA
A
Educação do Campo Sob a ótica do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura
Familiar (SINTRAF) - Mutuipe-Ba.
Amargosa/BA
2013
CRIATINA SUEDY
DOS SANTOS SOUSA
A
Educação do Campo Sob a ótica do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura
Familiar (SINTRAF) - Mutuipe-Ba.
Monografia apresentada á Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB como requisito parcial para conclusão do
curso Licenciatura em Pedagogia.
Orientadora: Prof. Drª.
Silvana Lúcia Silva Lima
Amargosa – BA
2010
As crianças, jovens, mulheres,
homens, trabalhadores e trabalhadoras do campo que sonham e constrói nas suas
lutas diárias o amanha desejado... A todos que dão o melhor de suas vidas em
defesa da emancipação do seu povo e construção de uma sociedade melhor.
AGRADECIMENTOS
Agradeço
ao meu grande e bom Deus, inspirador e fortalecedor na concretização deste
trabalho.
Aos
diretores do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Mutuipe,
pelo vivo interesse em ajudar a construir esse trabalho.
A
professora Dr.ª Silvana Lúcia Silva Lima com especial admiração, pela sabia
orientação e, ainda mais, por acreditar na realização deste trabalho.
As
minhas amigas e colegas do grupo de pesquisa em Educação do Campo e
Desenvolvimento Territorial, Cheirla dos Santos Sousa e Nuzia Mara, pelo apoio
irrestrito às necessidades mais diversas que o ato da pesquisa acentua ou faz
nascer e por compartilharmos a paixão em defender uma educação autentica e de
qualidade para os sujeitos do campo.
A
minha grande amiga e companheira da militância sindical Nayara Matos, pela
disposição incondicional para comigo.
As
minhas amigas e colega de turma Elma Sousa, Núbia Silva e Luma Matos, por que é
a amizade que mantém a sanidade, obrigada pelo carinho, incentivo, pelas
conversas sem fim.
Por
fim, mas não menos importante! Agradeço a minha mãe e minhas irmãs, mulheres
queridas e indispensáveis que entenderam e suportaram a minha ausência.
Obrigada pela força e compreensão de sempre.
Terra!
Vida sem vida, morte destemida...
Terra
TERRA,
bem natural,
Não é mercadoria, patrimônio, capital.
Vejo, no passado e presente,
Gente sem terra, terra sem gente.
Generosa! Alimento, fruto do chão!
Por que, existe fome de pão?
Terra apropriada, gente matada!
Morte semeada, Vidas ceifadas!
Sugada, destruída, maltratada,
Poucos a detêm concentrada.
Das sesmarias, propriedade privada,
Ao latifúndio, arame, cercada.
Povos nativos exterminados,
Negros escravizados.
Sertanejos, desprovidos!
Imigrantes, excluídos!
Não é mercadoria, patrimônio, capital.
Vejo, no passado e presente,
Gente sem terra, terra sem gente.
Generosa! Alimento, fruto do chão!
Por que, existe fome de pão?
Terra apropriada, gente matada!
Morte semeada, Vidas ceifadas!
Sugada, destruída, maltratada,
Poucos a detêm concentrada.
Das sesmarias, propriedade privada,
Ao latifúndio, arame, cercada.
Povos nativos exterminados,
Negros escravizados.
Sertanejos, desprovidos!
Imigrantes, excluídos!
Vejo
ganância, explorados, patrão,
Assassinatos, tiros, balas, corpos no chão!
Cercas, sangue, terra manchada!
Omissão, crimes contra a enxada.
Estado, leis, mandados, imposição!
Despejos, gritos, choro, caixão.
Violência, repressão, fome, miséria,
Injustiças, impunidade, barbárie, guerra.
Assassinatos, tiros, balas, corpos no chão!
Cercas, sangue, terra manchada!
Omissão, crimes contra a enxada.
Estado, leis, mandados, imposição!
Despejos, gritos, choro, caixão.
Violência, repressão, fome, miséria,
Injustiças, impunidade, barbárie, guerra.
Enfrentamento,
resistência, lutas, esperança,
Da terra a semente, um broto levanta.
A morte enfrentada em defesa da vida,
Oportunidade, trabalho, dignidade, comida.
No ventre dos sonhos, povo destemido,
Madruga, não cansa! Povo Aguerrido
Fértil, fecunda, terra pro povo...
Dela e por ela, renascerá o projeto novo!
Da terra a semente, um broto levanta.
A morte enfrentada em defesa da vida,
Oportunidade, trabalho, dignidade, comida.
No ventre dos sonhos, povo destemido,
Madruga, não cansa! Povo Aguerrido
Fértil, fecunda, terra pro povo...
Dela e por ela, renascerá o projeto novo!
Clairton Buffon.
Resumo: Este
trabalho de pesquisa faz uma análise crítica da Educação do Campo a partir da
ótica do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (SINTRAF) no
município de Mutuípe – Ba, objetivando compreender como o movimento sindical
rural no município entende a educação dos sujeitos do campo. Neste sentido é
necessário dá voz aos dirigentes sindicais para saber o que eles pensam sobre
essa educação. Ao estuda-los é preciso considerar que, esses sujeitos possuem
vivências e experiências carregadas de valores, culturas e saberes que
nortearão a construção e reconstrução de novas práticas e projetos educativos
para o Campo. Realizamos pesquisa qualitativa com levantamento empírico de
dados, coletados por meio da técnica de Grupo Focal. Este estudo referencia-se nos
autores Caldart, Pereira, Alentejano e Frigotto (2012), Caldart (2011),
Taffarel, Júnior e Escobar (2010), Lima e Silva (2011), Ribeiro (2010), Arroyo,
Caldart e Molina (2009), Ponce (2007), Souza (2006), Gohn (1995), Freire (2011,
1986), Medeiros (1989), Antunes (1997). Castelles (1974), entre outros. O
estudo revelou diversas contradições e limites presente no campo, no movimento
sindical rural e na educação do campo concebida pelos dirigentes sindicais no
município de Mutuipe-Ba.
Palavras
chaves: Camponês. Educação do Campo. Movimento Sindical. Prática Educativa.
CRISTINA SUEDY DO SANTOS SOUSA
A EDUCAÇÃO DO CAMPO SOB A ÓTICA DO SINDICATO DOS TRABALHADORES (AS) NA
AGRICULTURA FAMILIAR (SINTRAF) MUTUIPE-BA
Monografia
apresentada como requisito para a obtenção do título de Licenciada em Pedagogia
do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia
Aprovado em, 24 de setembro de
2013.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Prof. Dra Silvana Lucia Silva Lima – (Orientadora)
Prof. Dra Silvana Lucia Silva Lima – (Orientadora)
Doutora em Geografia pela Universidade Federal
de Sergipe
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
_______________________________________________
Prof. Drª Tatiana Ribeiro Veloso
Prof. Drª Tatiana Ribeiro Veloso
Doutora em Geografia pela Universidade Federal
de Sergipe
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
_______________________________________________
Prof. MsC. Terciana Moura Vidal
Prof. MsC. Terciana Moura Vidal
Doutoranda em Educação pela Universidade de
Minho/Portugal
Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia
|
AP
–
Ação Popular
CEB - Câmara de Educação
Básica
CEEP – Centro de Educação
Profissional do Semi -Arido
CEBE´S
- Comunidades Eclesiais de Base
CGT- Cofederação Geral dos
Trabalhadores
CLT – Leis do Trabalho
CNBB - Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil
CNE - Conselho Nacional de
Educação
CNTTR – Congresso Nacional de
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
CONTAG – Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
CPT- Comissão
Pastoral da Terra
CRB –
Cofederação Rural Brasileira
CUT - Central Única dos Trabalhadores
DOEBEC - Diretrizes
Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo
ENERA
- Encontro
Nacional de Educadores e Educadores da Reforma Agrária
ETR –
Estatuto do Trabalhador Rural
FASE –
Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional
FETAG –
Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar no Estado da Bahia
FETRAF - Federação dos Trabalhadores na
Agricultura Familiar
FONEC - Fórum Nacional de
Educação do Campo
FUNRURAL- Fundo de Assistência
do Trabalhador Rural
GTB – Grito
da Terra Brasil
INCRA
– Instituto
Nacional de Colonização na Reforma Agrária
LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MAB - Movimento
dos Atingidos por Barragens
MASTER - Movimento dos Agricultores Sem Terra
MEB - Movimento de Educação
de Base
MDA – Ministério do
Desenvolvimento Agrário
MOBRAL - Movimento
Brasileiro de Alfabetização
MST - Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
MSTTR – Movimento Sindical de Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais
ONGs – Organizações
Não-Governamentais
PADRSS - Projeto
Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário
PCB - Partido Comunista Brasileiro
PNE – Plano Nacional de Educação
PPP – Projeto Político Pedagógico
PAA – Programa de Aquisição de
Alimentos
PNAE- Programa Nacional de
Alimentação Escolar
PROEJA CAMPO –
Programa de Educação de Jovens e Adultos
PRONERA - Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária
PRONAF – Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
SINTRAF – Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadores na Agricultura Familiar
SRB – Sociedade Rural
Brasileira
SUPROF – Superintendência da
Educação Profissional
ULTAB - União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas
UnB - Universidade de
Brasília
UNESCO - Organização
das Nações Unidas para a Educação
UNICEF - Fundo
das Nações Unidas para a Infância
USI – União Sindical Independente
SUMÁRIO
Introdução____________________________________________________
01
CAPITULO
I - Considerações sobre a História e Concepção de Educação do Campo_______________________________________________________18
1.2 Educação do Campo: Avanços e Possibilidades_________________________________________________24
CAPITULO
II- Sindicalismo Rural: movimento de organização e representação
dos
trabalhadores do campo _____________________________________30
2.1
Movimento social, educação e organização de classe na
comteporaneidade_____________________________________________31
2.2 Movimento
Sindical e a Luta por Direitos________________________ 52
2.3
Ações coletivas e organização sindical no vale do Jiquiriça__________45
CAPITULO
III - Sobre o campo: Desvelando as contradições Sociais_____ 46
3.1 Queremos nos igualar ao agronegócio? ________________________
50
3.2
Luta e políticas públicas ____________________________________ 52
CAPITULO
IV - A Educação do Campo na ótica do SINTRF de Mutuípe__ 56
Considerações:
o campo que temos e o campo que queremos__________64
Referencias__________________________________________________68
Apêndice
A__________________________________________________ 73
Apêndice
B__________________________________________________ 75
Anexo
A___________________________________________________ 84
Anexo
B___________________________________________________ 85
Introdução
Este trabalho é o resultado da
pesquisa realizada como requisito parcial do trabalho de conclusão do curso de
licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Tem
como objetivo principal compreender como o movimento sindical rural no
município de Mutuípe entende a educação dos sujeitos do campo. Entendemos que a educação do campo é muito mais do
que ter escola no campo, é como em Kolling, Cerioli e Caldart (2002, 2012, p.
258) “a educação compreende todos os processos sociais de formação das pessoas
como sujeitos de seu próprio destino. Neste sentido, educação tem relação com
cultura, com valores, com jeito de produzir, com formação para o trabalho e
para a participação social”.
A educação
não se restringe a aprendizagem escolar, tão pouco é somente desenvolvida pelo
aparelho escolar institucionalizado. Gohn (2001, p. 203) afirma que “a aprendizagem
se dá por meio da prática social. É a experiência das pessoas em trabalhos coletivos
que gera um aprendizado”, através da educação não-formal, que dar-se nos
diversos espaços coletivos (movimentos, organizações, associações sociais, etc.).
Existem, portanto diferentes teorias, concepções e experiências de práticas
educativas nos processos educacionais.
Mas que concepção
de Educação do Campo possui os camponeses (as)? Estes são trabalhadores que assumem
o papel de dirigentes sindicais, representantes de sua comunidade de origem e,
ao mesmo tempo são agricultores familiares, sujeitos
carregados de experiências e saberes da vida no campo e da
organização sindical em Mutuípe.
A luta se inicia em 1986 com a
organização dos trabalhadores nas comunidades eclesiais de Base (CEBE´S),
através do trabalho de evangelização. Neste período a igreja católica foi uma
forte aliada na construção do projeto de organização da classe trabalhadora do
campo. O movimento sindical rural no município de Mutuípe tem papel na mobilização
e organização dos trabalhadores do campo, a partir de uma bandeira de luta por
melhores condições de trabalho e vida digna no campo. Confirma o Estatuto da
entidade:
Art. 4º - O Sindicato dos Trabalhadores (as) na Agricultura Familiar de Mutuípe é uma
organização associativa de caráter classista, autônoma e democrática cujos
fundamentos caracterizam-se pelo compromisso com a defesa e promoção dos
interesses imediatos e históricos dos agricultores familiares na luta por
melhores condições de vida, trabalho e cidadania integrando-se na luta em
defesa dos interesses da classe trabalhadora (Mutuipe, 2011, p.1)
Esta organização da classe
trabalhadora surge a partir da necessidade de enfrentamento a negação, opressão
e exploração vivenciada pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo e se
constitui como instrumento de luta política contra um modelo de desenvolvimento
excludente e a favor da construção de um projeto que concebe o campo enquanto
espaço político, social, cultural, produtivo, capaz de gerar vida, que
reconhece os trabalhadores como sujeitos de direito, capaz de protagonizar a
transformação e construção de um novo projeto de desenvolvimento para o campo.
O seu processo[1] histórico é marcado por
lutas e conquistas de questões previdenciárias, trabalhistas, agrárias, de
assistência técnica, crédito rural, moradia e educação para os trabalhadores e
trabalhadoras da Agricultura Familiar. No entanto, o que nos inquieta é a
tímida relação desse sindicato com as questões educacionais. É justamente daí que
se define o problema de pesquisa: como o movimento sindical no município de
Mutuípe entende a Educação dos sujeitos do campo?
Este problema de pesquisa surgiu a partir do
reconhecimento da história
da educação destinada aos sujeitos do campo. A constatação das diversas
contradições presente na escola, a forma cruel e perversa como esta ensinou
durante décadas, pondo o campo como lugar do atraso, de matuto e ignorante,
isto é, a escola ao invés de preparar os sujeitos para aprender a lidar com a
sua própria realidade e as potencialidades, ela foi uma desestimuladora das
possibilidades de desenvolvimento local, da agricultura familiar, da vida no
campo. A minha trajetória
escolar traz marcas que comprova o efeito da ausência e precariedade de
políticas educacionais destinadas aos sujeitos do campo.
Portanto realizar esse
trabalho é antes de tudo uma questão de pertencimento. Primeiro por que o contato com a terra, com o chão, com a
natureza, com o trabalho familiar e com os sujeitos do campo, faz-se presente
desde a minha infância, isto é, a realidade do campo é
também a minha realidade, segundo, por que a militância no movimento sindical rural me envolveu de tal modo com a
realidade camponesa que a busca e a construção de conhecimento só tem sentido
para mim se este possibilitar pensar o campo com e para a classe trabalhadora.
Ainda hoje, embora reconhecido as características próprias da educação do
campo com a criação de uma secretaria especifica no MEC/SECAD, ás escolas do
campo continua sendo oferecido uma educação centrada na perspectiva
urbanocêntrica e a situação pedagógica e de infraestrutura dessas escolas ainda
é bastante
precária e não atende a realidade dos sujeitos
do campo.
Analisar
a educação do campo, a luz das contribuições dos movimentos sociais do campo, é
de grande relevância, já que este vem construindo um modelo de desenvolvimento
para o campo, pautado na perspectiva de uma produção, que atenda a necessidade
do povo e não do capital e que traz uma proposta educativa que vê os trabalhadores
rurais como sujeitos de direitos, construtores da sua própria história. Sem
falar na possibilidade de descobrir e reconhecer experiência do movimento
sindical rural em educação do campo, que podem ajudar na construção de novas
práticas educativas, com a qualidade que os sujeitos que vivem no campo
merecem.
Há
ainda uma necessidade de “dar voz” aos pesquisadores da educação do campo e aos
militantes dos movimentos sociais do campo, construindo assim uma reflexão
acadêmica quanto ao assunto em questão, já que as ciências da educação
contribuem para a compreensão dos fenômenos educativos a partir da realidade
concreta dos agentes coletivos, uma vez que a educação se constitui como
processo de humanização do ser humano.
E finalmente por observar que
em pleno século XXI o processo educativo dos sujeitos do campo ainda é marcado
pelo não reconhecimento, pela desvalorização e negação desses sujeitos.
Entendemos que o campo não mais pode ser visto como lugar do atraso, mas como
território dinâmico e educativo, de produção social e cultural, em que os
trabalhadores e trabalhadoras do campo devem ser vistos com um olhar mais
cuidadoso, colocado como prioridade no acesso e permanência à educação pública
e de qualidade, além de outros direitos fundamentais a vida humana.
Para desenvolvimento da
pesquisa identificamos as fontes e referencia bibliográficas que dão conta do
conceito de Educação do Campo, organização e movimento sindical. Delimitamos as
seguintes teorias pedagógicas: Educação Popular, Pedagogia Socialista e a
Pedagogia do Movimento, entendendo que as teorias pedagógicas são carregadas de
ideologias e essas são as que mais se aproximam do objeto de estudo, pois
propõe uma educação autônoma, democrática e libertadora, vinculada a realidade
dos sujeitos, de sua relação com o mundo do trabalho, da auto-organização, e de
uma educação ligada à luta política dos trabalhadores. Nos apoiamos teóricamente
no Dicionário de Educação do Campo (2012), organizado por Roseli Salete
Caldart, Isabel Brasil Pereira, Paulo Alentejano, e Gaudêncio Frigotto; no
Caderno Didático de Educação Do Campo (2010), organizado por Celi Nelza Zulke
Taffarel, Claúdio de Lira Santos Junior, Micheli Ortega Escobar. DialOGAMOS
ainda em Freire (1986,1983, 1997, 2011); Gohn (1995,2001); Souza (2006); Ponce
(2007); Aroyio, Caldart e Molina ( 2009);
Ribeiro (2010); Caldart (2011); Lima e
Silva (2011), entre outros.
O trabalho foi desenvolvido através
da pesquisa qualitativa, buscou-se entender os acontecimentos diários e
contextualizados da organização sindical e sua relação com a proposta de
Educação do Campo, bem como, identificar as vivências e práticas dos dirigentes
no movimento sindical.
De acordo com Richardson
(1999):
Os
estudos que empregam a metodologia qualitativa podem descrever a complexidade
de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender
e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no
processo de mudança de determinado grupo e possibilitar em maior nível de
profundidade, o entendimento das particularidades dos comportamentos dos
indivíduos. (RICHARDSON, 1999, P. 80).
A pesquisa qualitativa nos
possibilitou interpretar e atribuir significado ao objeto estudado e fazer uma
análise indutiva dos dados durante todo o processo investigativo. Consideramos
as informações, crenças e representações dos sujeitos da pesquisa.
Adotamos como técnica a
entrevista de grupo focal por entender que a mesma consiste justamente na
interação entre os participantes e o pesquisador, favorecendo a coleta de dados
a partir da discussão focada em tópicos específicos e diretivos. Não fizemos
perguntas diretas para os entrevistados, no entanto julgamos necessário o
roteiro de entrevista para nortear as questões aos fins desejados pela
pesquisa.
Para garantir eficácia e aplicação desta técnica
realizamos um planejamento. Adotamos como base a tríade estruturante campo -
política pública - educação, por entender que a construção do novo projeto de
Educação do Campo, “precisa manter o vinculo e o protagonismo dos sujeitos
coletivos organizados, ser parte da luta da classe trabalhadora do campo por um
projeto de campo, educação e sociedade” (Molina, 2012, p.591).
Inicialmente contatamos o coordenador do SINTRAF,
apresentamos a proposta da pesquisa, este por sua vez, nos convidou a
apresentar a proposta numa reunião com toda a diretoria, onde novamente foi
apresentada a pesquisa, os objetivos, metodologias e proposta de trabalho,
nesse momento foi construído juntamente com eles o plano de execução, definimos
a operacionalização (datas, horários, local da realização).
Criteriosamente selecionamos
08 dos 16 diretores do SINTRAF. Observando que dos 08 selecionados para
pesquisa, três são do sexo masculino, cinco do sexo feminino, 3 estão no
movimento desde a sua fundação (26/08/1986), 2 estão a 12 anos e 3 são diretores na gestão atual (2011 a 2014).
Vale resaltar que são todos residentes no campo, nas suas comunidades de origem
e possui idade entre 31 (trinta e um) e 59 (cinquenta e nove) anos.
A aplicação da técnica se deu em dois momentos
distintos: No primeiro, as discussões foram levantadas a partir do tema: Campo,
Contradições e possibilidades. Para provocação e problematização do tema
realizamos exposição de
imagens (fotografias e charges) e exibição de vídeo, retratando as contradições
existentes no campo brasileiro. A partir daí o grupo foi expressando seus
sentimentos, pensamentos e ideias acerca do tema. Esse primeiro momento teve
duração de duas horas e meia e aconteceu na sede do SINTRAF.
No segundo momento elegemos o tema: Educação do
Campo X políticas públicas. De inicio realizamos a dinâmica
de grupo: Abra o olho meu irmão, a qual objetiva provocar nos participantes a
tomada de consciência da luta desigual que enfrentamos em nossa sociedade. Em
seguida o tema foi situado na dinâmica. A letra da música,, não vou sair do
campo, de Gilvan Santos foi utilizada como recurso para a problematização do
tema.
Para registro das informações usamos gravação em
áudio e vídeo ( gravador, filmadora) e a descrição escrita (relatório), estes
favoreceram o acompanhamento das ações e falas no processo de análise de dados.
Para tanto contamos com o auxilio de duas pessoas. O papel de moderador foi
desempenhado pela própria pesquisadora.
A análise. De
inicio compilamos os dados, avaliamos e selecionamos o que consideramos importante,
fizemos comparação,
reflexão e interpretação de acordo com os objetivos e hipóteses levantados no
inicio da pesquisa.
Segundo
Gil (1999):
a analise tem como
objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que possibilitem o
fornecimento de respostas ao problema proposto para investigação. Já a
interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas,
o que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos
(GIL, 1999, p. 168).
O registro e
analise dos dados foram organizados de acordo os temas trabalhados. Então no
primeiro momento construímos o texto considerando as ideias acerca do tema
campo, contradições e possibilidades. No segundo momento trazemos a tona o
entendimento a cerca do tema Educação do Campo e Políticas Públicas. Observando
que para facilitar a análise e o entendimento do leitor, agrupamos as
entrevistas de acordo o período de atuação dos dirigentes no SINTRAF: Usaremos
a sigla DA para identificar os dirigentes que estão no SINTRAF desde a sua
fundação (1986), DB para os dirigentes que estão a 12 anos e DC para os
dirigentes que estão no SINTRAF a partir da gestão atual (2011 a 2014).
Visando uma melhor explicação de que
caminho trilhamos no desenvolvimento desta investigação estruturamos o trabalho
do seguinte modo: Capitulo I - Buscamos teoricamente compreender a história, a concepção,a sustentação teórico, os avanços
e as possibilidades da Educação do Campo.
Capitulo
II - Ao entender a história e concepção de educação do campo buscamos
evidenciar teoricamente na história do movimento sindical rural elementos da
proposta de educação do campo.
Capitulo
III - A luz da teoria, analisamos os dados da pesquisa, desvelando as contradições
sociais presente no campo, especificamente no território de atuação do SINTRAF
de Mutuípe-Ba.
Capitulo
VI – Posta as contradições sociais existente no campo, investigamos os dirigentes
sindicais, a fim de compreender como eles entendem a educação do campo.Por fim tecemos nossas considerações
a cerca da pesquisa.
CAPITULO I
CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO CAMPO
Não podemos
falar de educação se não conhecemos a lei de nº 9.394/96 que trata das
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). É baseada
nessa lei, especificamente no artigo 1º que compreendemos que a educação
engloba alem do processo de escolarização formal, os processos formativos desenvolvidos
nos mais diversos espaços da vida social, portanto pensar a educação envolve algo muito mais amplo do que
pensar a escola. É evidente que no imaginário das pessoas a escola se
tornou hegemônica quando se refere a ações educativas, aos processos de ensino
e aprendizagem. Mas pensar a educação somente a partir da escola significa
desconsiderar outras formas de educação não formal que se concretizam na vida e
no cotidiano do ser humano.
É inclusive desconsiderar as concepções
diferenciadas de educação, a educação historicamente construída e desenvolvida
pela classe popular, nos espaços não formais de ensino, as elaborações
pedagógicas, as teorias e práticas educativas alternativas e contrárias às práticas
tradicionais, os conhecimentos compartilhados e construídos em outros espaços,
de diferentes maneiras, com objetivos que atende os interesses e as
necessidades da classe trabalhadora.
Ao tratar
de educação não formal não podemos perder de vista as ideias de GOHN (2001):
A
educação não-formal tem sempre um caráter coletivo, passa por um processo de
ação grupal, é vivida como práxis concreta de um grupo, ainda que o resultado
do que se aprende seja absorvido individualmente . O processo ocorre a partir
das relações sociais, mediadas por agentes assessores, e é profundamente marcado por elementos de intersubjetividades
a medida que os mediadores desempenham o papel de comunicadores (Gohn, 2001,
p.104).
Que bom que o campo educacional nos possibilita
investigar sobre as diversas formas e praticas educativas nos espaços não
formais de ensino, isso se configura como elemento importante, na medida em que
permiti avançarmos e ampliarmos o nosso conhecimento em direção a concepção de
educação, com um caráter que transcende os conceitos formais, tendo clareza de
que a educação perpassa os espaços
educativos diversos e direciona às trajetórias de vida dos grupos e indivíduos.
O mais importante aqui não é a diferença entre
educação formal e não formal, ao contrario é a superação desse antagonismo
existente entre ambas. É a clareza de que a educação no seu sentido mais amplo “pode
contribuir para transformar o mundo, mas não pode transforma-lo sozinha, porque
é necessário a superação do modo capitalista de produção” (Taffarel, Júnior e
Escobar, 2010, p.30) e está ação, demanda a luta da classe trabalhadora
organizada e emancipada.
Isso
confirma a nossa defesa pela “universalização do ensino e pela escola única, e
não dualista: a escola única é aquela em que não há distinção de classe, e onde
a organização da escola e o trato com o conhecimento busca integrar o pensar e
o fazer. Uma escola para a desmistificação da realidade e para a transformação
do mundo. Uma escola que deve reconhecer que entre a escola da cidade e a
escola do campo não há um antagonismo, mas uma diferença essencial que deve ser
tratada com um método superador” (Taffarel, Júnior e Escobar, 2010, p.30).
A pergunta é. Que educação, tratamos na nossa
discussão? O que entendemos por educação?
As
populações do campo, organizados em movimentos sociais, propôs, em parceria com
outras organizações, um debate na luta por melhores condições de vida no campo.
Entre as formas de lutas, tivemos ocupações, machas, manifestações, elaboração
de políticas públicas.
Em 1996 no Rio Grande do Sul o Movimento Sem Terra (MST)
depois de muitas lutas, pressões e reivindicações consegue a aprovação do
parecer nº 1. 313/ 96 referente a Escola Itinerante, pelo Conselho Estadual de
Educação. Essas escolas itinerantes são meios de garantir a escolarização para
os trabalhadores do campo em seus diversos campos de luta pela reforma agrária.
Segundo Babninke e Camini (2012):
As escolas itinerantes vêm responder á necessidade
concreta de assegurar à escolarização das pessoas que vivem em acampamentos,
inicialmente as crianças. Era comum que elas perdessem o ano letivo devido às
mudanças constantes, a falta de vagas nas escolas próximas dos acampamentos e a
discriminação sofrida pelo fato de serem sem-terra. ( Babninke e Camini, 2012,
p.331).
É de extrema importância trazer esta questão por que a
escola itinerante contribuiu de forma significativa com as escolas e a educação
de trabalhadores e trabalhadoras do campo, sendo fundamental na construção da
proposta da Educação do Campo com ampliação da necessidade de escolarização.
Foi do I Encontro Nacional de Educadores da Reforma
Agrária, realizado em Brasília, em julho de 1997, pelo MST (Movimento Sem
Terra) e em parceria com a UnB (Universidade de Brasília), a CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil), a UNICEF (Fundo das Nações para a Infância) e a
UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), que
marcamos o inicio de uma trajetória de lutas e conquistas por uma educação no e
do campo.
É justamente desse encontro que nasce a proposta da I
Conferência Nacional: Por uma Educação do Campo, realizada em julho de 1998. Proposta
que estabelece significativamente um novo cenário de luta e debate dos
trabalhadores e trabalhadoras do campo, pautando a sua educação em consonância
com a luta pela reforma agrária e por políticas públicas. Pensando a educação
vinculada ao novo projeto de desenvolvimento para o campo e, consequentemente,
um projeto popular para a nação brasileira. Nesse sentido surge à necessidade
de uma articulação nacional para sustentar o debate da educação do campo,
denomina-se a, articulação Por uma Educação Básica do campo. Acende-se nos
estados, articulações e mobilizações dos movimentos sociais pelo direito a
educação no e do campo, envolvendo nessa luta, universidades, educadores (as),
trabalhadores e trabalhadoras do campo. Inclui-se também a educação do campo na
agenda de algumas secretarias estaduais e nas discussões do Plano Nacional de
Educação.
No âmbito nacional a articulação nacional por uma
Educação do Campo promoveu, em 2002, o Seminário Nacional para discutir sobre a
educação básica do campo. O Seminário propõe algumas ações para o novo governo,
reafirmando a necessidade da construção de um projeto específico de Educação do
Campo que esteja articulado ao projeto nacional de educação.
Em 2004, o Programa Nacional de Educação na Reforma
Agrária (PRONERA) constitui-se também como marco importante na luta dos
trabalhadores sem terra por uma educação do campo. Pois, aliado a organização e
mobilização pela reforma agrária o movimento dos trabalhadores sem terra já
pautava outros direitos, sobretudo a educação, denunciando em suas
reivindicações a falta de escolas, de educadores, o descaso com o processo
educacional dessa população.
O PRONERA compõem as políticas públicas do governo
federal, em que é executado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA), no ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). É um programa
de educação, especifico para reforma agrária, que objetiva ampliar os níveis de
escolarização formal de jovens e adultos, trabalhadores e trabalhadoras
assentados, considerando os elevados índices de analfabetismo por parte dessa
população dentro dos assentamentos de reforma agrária, como também a formação
de educadores que trabalha diretamente com os assentados, especialmente os
educadores oriundos do próprio movimento.
Nasce, como fruto dessas lutas as Diretrizes
Operacionais para Educação Básica nas Escolas do Campo, instituída na resolução
CNE/CEB 1, de 3 de Abril de 2002,
aprovada pelo Conselho Nacional de Educação - CNE na Câmara
de Educação Básica - CEB no ano 2002.
A aprovação das Diretrizes Operacionais para Educação
Básica nas Escolas do Campo representa uma grande conquista para o movimento e
para os trabalhadores do campo que veem a escola como espaço de construção e
desenvolvimento humano. Com as Diretrizes Operacionais para Educação Básica do
Campo, afirma-se a identidade própria e diversa dos sujeitos, da escola e do
campo, ao destacar que:
A Educação do Campo tratada como Educação Rural na
legislação brasileira, tem um significado que incorpora os espaços da floresta,
da pecuária, das minas e da agricultura, mas os ultrapassa ao acolher em si os
espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas. O Campo, nesse
sentido, mas do que um perímetro não-urbano, é um campo de possibilidades que
dinamizam a ligação dos seres humanos com a própria produção das condições da
existência social e com as realizações
da sociedade humana.( BRASIL, 2001,p. 1).
Desta
forma, os movimentos sociais do campo conseguem dá maior amplitude e
significado para o termo educação rural, definido pela Constituição Brasileira
para Educação do Campo, além de demonstrar que essa luta expressa o interesse
de uma coletividade.
Objetivando
ampliar as mobilizações sociais e as produções teóricas, bem como socializar
praticas e experiências vivenciadas pela Educação do Campo, concretiza-se em
2004 a II Conferência Nacional “Por uma Educação Básica do Campo”. A
Conferência agrega sujeitos diversos, representados pelos movimentos sociais/
sindicais, pelas universidades, ONGs, Escolas de Formação por alternância,
secretarias municipais e estaduais de educação, entre outros. A Conferência
funciona como espaço público, em que os sujeitos constroem proposta de uma
educação que de fato inclua os sujeitos do campo, e se comprometam com a luta,
se dispondo na constituição de uma agenda política.
Nota-se na Conferência o quanto o movimento ”Por uma
Educação do Campo” vem crescendo, observando o número significativo de
participantes (1.100), como também, a sua importância para o campo brasileiro.
A Declaração Final expressa essa importância na medida em que explicita as
principais discussões, demandas e preposições dessa Conferência:
Um projeto de sociedade que seja justo, democrático e
igualitário; que contemple um projeto de desenvolvimento sustentável do campo,
que se contraponha ao agronegócio e que garanta: a realização de uma ampla e
massiva reforma agrária; demarcação das terras indígenas; o fortalecimento e
expansão da agricultura familiar/camponesa; as relações/condições de trabalho
que respeitem os direitos trabalhistas e previdenciários dos trabalhadores e
trabalhadoras rurais; a erradicação do trabalho escravo e da exploração
infantil; o estímulo á construção de novas relações sociais e humanas, e
combate a todas as formas de discriminação e desigualdade fundada no gênero,
geração, raça e etnia; articulação campo-cidade, o local-global. (Declaração
Final, 2004, p.2).
Esse trecho da Declaração Final da Conferência nos
permite afirmar que a proposta do movimento de Educação do Campo perpassa a discussão
de um novo projeto de desenvolvimento para o campo, da construção de outra
sociedade, que se inicia justamente pela construção de políticas públicas para
escola do campo.
Podemos
afirmar hoje que a Educação do Campo é uma realidade em constante processo de
construção. E nos últimos anos tem sido pautados em muitos debates, nos
congressos, seminários, fóruns a nível municipal, estadual e nacional,
inclusive oriundos desses debates obtivemos resultados significativos e
contamos com algumas conquistas, a exemplo
das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo,
aprovada pela câmara de educação básica do Conselho Nacional de Educação em
dezembro de 2001; O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA;
Cursos de graduação e Pós-graduação, entre outros. Nota-se, portanto, a
existência de uma normatização que garante efetivamente alguns direitos.
1.2 EDUCAÇÃO DO CAMPO: AVANÇOS E POSSIBILIDADES
Notamos que no âmbito nacional obtivemos avanços
expressivos, porem nos municípios há ainda muito que avançar, quando se trata
de educação do campo. Observamos que as escolas do campo continuam retratando
uma realidade precária, com péssimas condições de infraestrutura, currículos
engessados, baseados em princípios urbanos que não atende a realidade e
especificidades dos sujeitos do campo, projeto político pedagógico só pra
cumprir as exigências de uma normatização. Enfim poucas mudanças nas realidades
das escolas do campo.
Com
base em Taffarel, Júnior e Escobar (2010), a proposta de Educação do Campo é
fruto da luta de trabalhadores e trabalhadoras do campo organizado nos
movimentos sociais, considerando a sua diversidade étnica, cultural, ambiental,
geográfica, política, etc. Ela surge justamente da necessidade de pensar a
educação do campo, a partir da realidade indenitária desses sujeitos diversos
que possui uma relação de pertencimento com o campo. E consequentemente pensar uma nova forma de
desenvolvimento para o campo, outra sociedade, que leve em consideração a
realidade dos sujeitos que compõem esse lugar, seu modo de vida, suas relações
sociais, de trabalho e com a natureza. Caldart (2008), nos ajuda a pensar sobre
isso ao afirmar que:
[...] Educação do Campo, que nasceu dos movimentos
sociais camponeses, em contraponto á educação rural. Nasceu vinculada aos
trabalhadores pobres do campo, aos trabalhadores sem terra, sem trabalho,
dispostos a reagir, a lutar, a se organizar contra um “estado de coisas”, para,
aos poucos, buscar ampliar o olhar para o conjunto dos trabalhadores pobres do
campo. (CALDART, 2008.).
Pensar
a educação dos sujeitos do campo requer pensarmos antes de tudo que tipo de
escolas temos e que tipo de escola queremos, que educação temos e que educação
propomos. Esse entendimento possibilitará propagar e implementar a proposta de
Educação do Campo que visa a formação numa perspectiva diferenciada da educação
tradicional, em que não dialoga com a realidade dos sujeitos e desconsidera
suas especificidades. E propõe um projeto de educação que inclua não somente a
luta pela educação, mas perpassa a luta pela terra, pelo direito ao trabalho, a
cultura, as questões ambientais, a segurança alimentar, em fim a luta por
políticas públicas. Segundo Arroyo (2009) questões como essas deixa claro que a
discussão sobre a educação no meio rural não pode tratar somente dela mesma,
mas deve inserir as diversas problemáticas que se encontra no campo brasileiro.
Portanto, o conceito de educação do campo nasce
justamente do embate político dos movimentos sociais por uma educação que de
fato inclua os trabalhadores e trabalhadoras e que ultrapassa o mundo da
educação, considerando fundamentalmente o debate sobre o trabalho no campo,
vinculado à cultura, as relações sociais, as relações com o meio ambiente e aos
processos produtivos de existência social no campo.
Ao pensar a educação do campo não podemos perder de
vista que a concepção de Educação do Campo, foi o próprio campo quem produziu,
e por isso não estamos aqui tratando de uma ideia de campo, mas de uma
concepção que nasce da realidade camponesa, de suas lutas por trabalho, terra,
e sustentabilidade. Neste sentido Caldart (2007), afirma que:
A educação do Campo nasceu como mobilização/pressão de
movimentos sociais por uma política educacional para comunidades camponesas: nasceu
da combinação das lutas dos sem terra, pela implantação de escolas públicas nas
áreas de Reforma Agrária, com as lutas de resistência de inúmeras organizações
e comunidades camponesas para não perder suas escolas, suas experiências de
educação, suas comunidades, seu território, sua identidade. (CALDART. 2007).
Deste modo a Educação do Campo nasce como prática
social e está em constante processo de construção e se “constitui como luta
social pelo acesso dos trabalhadores do campo á educação ( e não qualquer
educação) feita por eles mesmos e não apenas em seu nome. A Educação do Campo
não é para nem apenas com, mas sim, dos camponeses, expressão legitima de uma
pedagogia do oprimido”( Caldart, 2012, p. 261).
Taffarel, Júnior e Escobar (2010), trás as seguintes
contribuições no que concerne a educação do campo:
A Educação do Campo é um projeto de educação que está em construção com
nexos no projeto histórico socialista. É um projeto da classe trabalhadora do
campo. Tem como protagonistas os próprios camponeses e trabalhadores do campo,
suas lutas e organização e suas experiências educativas, que incluem a escola,
mas vão além dela. Ela se contrapõe á educação como formação humana. O papel da
educação também é o de formar sujeitos crítico, capazes de lutar e construir
outro projeto de desenvolvimento do campo e de nação. (Taffarel, Júnior e
Escobar, 2010, p.52).
Portanto o
objetivo da escola será garantir a todos, os saberes e as capacidades
necessárias a um domínio de todos os campos da atividade humana, como condição
para redução das desigualdades de origem sociais. Trata-se de um saber crítico,
não somente valorizando o significado humano da cultura, mas também
contribuindo para desvendar as contradições da estrutura social que sustenta as
relações sociais vigentes.
Dizemos que
urge a necessidade de ser disseminada, a proposta de Educação do Campo, um
projeto de educação que tem como pilares a emancipação dos sujeitos, em que os
próprios sujeitos possam compromete-se e se sentirem responsáveis com a luta e
construção de uma sociedade mais justa, igualitária e libertaria para todos.
Caldart (2011) afirma:
Nosso objetivo é a formação de sujeitos históricos capazes de trabalhar e
de lutar por um tipo de sociedade que coloca o ser humano como centro, que valoriza
a vida em sua diversidade e plenitude, que coloca a ciência e a técnica a
serviço da humanização do mundo. E que aceitam a trabalhar pela
autotransformação (pessoal e coletiva) emancipatória, realizada no processo
mesmo de construção de um novo padrão de relações sociais ( socialista)
trabalhar por este projeto supõe a compreensão da realidade social atual e a
intervenção nela. (CALDART, 2011).
A constituição deste novo projeto de educação e de
sociedade só será possível se de fato houver a inclusão e participação critica
dos sujeitos no processo de construção. Paulo Freire
(1986, p. 59) já dizia que a educação dirigida às massas haveria de ser
corajosa, propondo ao povo a reflexão sobre si mesmo, sobre seu tempo, sobre
suas responsabilidades... que lhe propiciasse a reflexão sobre o seu próprio
poder de refletir... que levasse em consideração os vários graus de poder de
captação do homem brasileiro de mais alta importância no sentido da sua
humanização.
É
importante compreendermos que a proposta de educação do campo não é um modelo
pronto e acabado, mas uma proposta que está em processo de construção e que
está sendo colocado para apreciação, para que de fato seja fruto de um amplo
debate nacional. Para tanto é necessário que a sociedade organizada se engaje
nesse movimento, quebrando a dicotomia campo e cidade, tomando posse dessa
bandeira de luta e se comprometendo com a construção de uma educação para
autonomia e liberdade.
A
Educação do Campo pressupõe a construção coletiva de uma educação popular
libertadora, nesse sentido ela propõe um projeto educacional emancipatório que
reconheça e afirme as múltiplas identidades existentes no campo. Segundo Arroyo
(2008) a escola tem a tarefa de formar indivíduos críticos, capazes de ler e
interpretar o mundo de formular, expressar e defender suas ideias, respeitando
e valorizando o outro, mas que isso, a escola do campo deve ser pública,
democrática, participativa, construída pela comunidade, mas mantida pelo
estado.
Com
relação a essa questão Arroyo (2008, p. 108), complementa:
Isso
significa dizer que o trabalhador do campo é sujeito ativo na construção do
projeto pedagógico da escola do campo. Sua voz se faz ouvir o tempo todo na
formação do trabalhador do campo. Na perspectiva da gestão educacional colegiada,
o povo não aceita a mão interventora do poder público, ditando de forma
autoritária pacotes que precisam ser executados a todo custo e avaliados pelo
governo, como condição para distribuição de recursos. (Arroyo, 2008, p. 108).
A escola
participativa e libertadora do campo se caracteriza como pratica contra
hegemônica que é contraria a qualquer tipo de cultura imposta, principalmente
por parte do estado. Ela é autônoma na construção do projeto político
pedagógico, partindo sempre da práxis dialética. O conhecimento não pode ser
tratado como algo pronto e acabado e a ação educativa como meio de transmissão
e assimilação do conhecimento cientifico, ao contrario a Educação do Campo deve
partir do principio do conhecimento que se dá através das experiências,
vivências e saberes diversos, dos sujeitos envolvidos no processo educacional.
Por
isso a educação do campo é também sustentada pela Pedagogia do movimento, pois
esta trata de uma educação que dá condição ao sujeito de compreender a sua
própria realidade pratica, de modo que os conteúdos disciplinares são tratados
de acordo as necessidades dos sujeitos do campo.
Sousa
2006 (Apud, MST, 1999, p.18) trás uma citação interessante sobre está questão:
“
...não adianta saber fazer contas no caderno e não conseguir usar essas contas
para calcular os gastos para adubar a nossa horta [...]; não adianta escrever
na prova sobre o que é bom para acabar com os piolhos e ter a cabeça povoada deles [...]; não
adianta saber discursar o que é democracia e na pratica da escola não deixar
ninguém participar impondo sempre as suas ideias”(MST, 1999,p.18).
Os
conteúdos estudados devem fazer sentido e confrontar a realidade vivida,
transformando-a. Outro elemento importante para pensarmos a pedagogia do movimento são os
conteúdos trabalhados fora da escola e em outros espaços educativos. Nesse
sentido Sousa (2006) afirma que:
Quanto
aos conteúdos desenvolvidos em espaços não formais, é possível afirmar que os
mesmos permitem construir conhecimentos com conteúdos delimitados nos eixos
temáticos organização ( regras, dialogo, respeito); comunidade (experiências,
objetivos e diferenças); participação (poder propor, mudar e autonomia) e
estratégias/resistências (alternativas para produção e negociação com os
governos). (SOUZA, 2006, p.47).
O movimento social vai se
constituído como sujeito pedagógico, pondo em movimento os diferentes
princípios da formação humana, sem perder de vista que a formação dos sujeitos
deve está combinada com o seu trabalho, sua cultura e sua história de vida.
Outra
base de sustentação da educação do campo é a pedagogia socialista, pois está dialoga
com a experiência da luta social e política da classe trabalhadora.
Entendemos importante expandir a proposta de Educação
do Campo, levando-a ao conhecimento de toda a população brasileira,
especialmente aos trabalhadores (as), educadores (as), homens e mulheres do
campo, fazendo com que cada sujeito se sinta desafiado a ocupar esse espaço,
como parte integrante da construção de uma sociedade de trabalhadores, fazendo
com que se cumpram as leis já conquistadas e se envolvendo nesse movimento de
construção da Educação do Campo.
Conclui-se que o
movimento de Educação do campo está propondo a construção de um projeto não só
de Educação, mais um novo projeto de sociedade que precisa ser pensado a partir
da transformação da escola, de modo que ela possa dar conta da formação de
sujeitos que sejam capazes de transformar sua própria realidade e construir seu
próprio futuro, entendendo que educação está diretamente relacionada com o
projeto de desenvolvimento de sociedade. Que por isso é necessário que toda
sociedade esteja mobilizada para poder decidir se que ou não construir um novo
projeto de sociedade, e que projeto de sociedade.
CAPÍTULO
II
SINDICALISMO:
MOVIMENTO DE ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DOS TRABALHADORES DO CAMPO
Para Júnior (1998), sindicalismo
é o processo no qual é gestado a dinâmica dos trabalhadores que se traduz
concretamente, no amplo imbricamento de ações. E se constitui como instrumento
de luta coletivo/social em defesa de interesse comum da classe trabalhadora, como
forma de enfretamento as condições de trabalho imposta pelo capital
A educação no movimento sindical
acontece no cotidiano, em suas mobilizações, lutas, reuniões de base,
assembleias, encontros de mulheres, capacitação de jovens, formação de
lideranças, fóruns, congressos da agricultura familiar, entre outras ações
coletivas, focadas intencionalmente na construção de um novo projeto de vida
para o campo, que seja capaz de garantir a sobrevivência das famílias, com
diversificação da produção, segurança alimentar, trabalho, renda, utilização
equilibrada e responsável dos recursos naturais, enfim, que seja sustentável,
cultural, ambiental, econômica, social e politicamente.
É no bojo
da construção desse novo projeto de desenvolvimento para o campo que se faz o contraponto
ao agronegócio[2].
Este é um modelo de desenvolvimento agrícola imposto pelo sistema capitalista como
símbolo da modernidade que visa a produção em grande escala, monocultura
agroexportadora, com uso de insumos químicos, biotecnologias e mecanização da
produção, gerando a concentração de terra e renda em nosso país, bem como
subjugação, subordinação e fragilização da agricultura camponesa.
Não
podemos perder de vista que o movimento sindical é um campo de muitas tensões e
contradições. Mesmo o sindicato sendo uma entidade não governamental, há uma
proximidade com o sistema governamental. Muitas atividades desenvolvidas pelos
sindicatos têm sido facilitadas com recursos do governo, captados através de
projetos, isso tem colocado em cheque a autonomia política dos sindicatos. Alem
disso há uma priorização da política com prestação de serviços assistencialista
e previdenciário, pois este, gera e garante a receita com capacidade de
sustentação financeira dos sindicatos, e por isso muitas vezes o trabalho de
organização e mobilização dos trabalhadores tem se resumido a isso, ocasionando
um distanciamento entre os dirigentes e a base, uma burocratização sindical e a
perpetuação de sujeitos descomprometidos com a luta dos trabalhadores do campo.
No entanto, nessa ultima década, através dos próprios
programas de governo, e das políticas públicas, os sindicatos tem contribuído
significativamente para a transformação e melhoria de vida dos agricultores
familiares, realizando projetos de habitação rural, assistência técnica e
extensão rural, organização e comercialização da produção, muito embora
reconheçamos que essa ação inclui uma pequena parcela da população do campo.
Mesmo com
suas limitações, o movimento sindical tem trabalhado para continuar o projeto
de educação do campo, apresentado no capitulo anterior. Este tem relação direta
com a formação política dos trabalhadores e trabalhadoras, construindo práticas
focadas na construção de um novo projeto de desenvolvimento de campo, e
consequentemente, um novo projeto de sociedade.
Nesse
capitulo buscamos evidenciar teoricamente na história e na luta
da classe trabalhadora do campo a relação constituída entre movimento sindical
rural e educação do campo. Partimos então do seguinte questionamento:
qual tem sido o papel dos movimentos sociais na superação das formas de
dominação capitalistas e na construção de uma nova sociedade? Assim o capitulo
será dividido em três partes: 2.1 Movimento social, educação e organização da
classe trabalhadora na contemporaneidade. 2.2 Movimento sindical rural e a luta
por direito e 2.3 Ações coletivas e organização sindical no vale do Jiquiriça.
2.1
-Movimento social, educação e organização de classe na contemporaneidade
Na literatura científica
existem diversos critérios para conceituar, caracterizar e analisar os
movimentos sociais, portanto não existe uma única e universalizante definição,
mas, variadas orientações para apreendê-los.
Tourani (1977) define movimento social como
ação conflitante dos agentes das classes sociais, isto é, para ele movimento
social está relacionado diretamente com a luta de classes. Segundo Castells,
para quem os protestos de hoje são ensaios para a sociedade do futuro (2013)[3] movimentos sociais são
sistemas de práticas sociais contraditórias segundo a ordem social
urbana/rural, cuja intenção é de transformação estrutural do sistema vigente,
através de ações revolucionárias ou não(CASTELLES, 1997).
Segundo Gohn (1995) movimentos
sociais:
São ações coletivas de
caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes
classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo
político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir
de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos,
litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e
político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de
interesses em comum. Esta identidade decorre da força do principio de
solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais
e políticos compartilhados pelo grupo. (GOHN, 1995, p.44).
As três concepções acima
apresentadas nos permite concluir que um movimento social representa o conjunto
de ações coletivas que pode está pautada na reivindicação de melhorias de
trabalho e vida, de caráter contestatório, mas também na construção de uma nova
sociedade com diferentes condições econômicas, sociais e políticas. Neste
sentido, a organização dos trabalhadores em movimentos sociais acontece
enquanto necessidade de enfrentamento a
um modelo de sociedade que se caracteriza pela forte exploração da força de
trabalho, pela dominação dos sistemas produtivos e apropriação dos bens
produzidos, resultando relações sociais de produção ditadas pelo sistema
capitalista.
É importante demarcar
conceitualmente que, historicamente, a sociedade dividida em classes sociais
são produtos e produtoras das relações
de exploração e dominação. E, onde existem exploradores e dominadores,
existem explorados, dominados, excluídos e oprimidos.
Segundo Paulo Freire (1983), a
condição de opressão pode ter o caráter formador na medida em que exige do
sujeito oprimido a busca da sua própria liberdade através da luta contra o que
oprime. Sobre isso afirma: “Quem melhor do que o oprimido se encontrará
preparado [...] para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a
que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca” (Freire, 1983, p.
32). A educação de base popular tem um papel fundamental nesta busca.
Caldart entra no debate com o
conceito de Pedagogia da Alternância. Para a autora “a dinâmica de lutas e de
organização internacionaliza um projeto de formação humana”, articulando teoria
e prática, concebendo o movimento social como lugar e “modo específico, de
formação de sujeitos sociais coletivos que pode ser compreendida como um
processo intensivo e historicamente determinado de formação humana”. (CALDART,
2012, 546)
Acrescenta ainda que
Em nossa formação histórica, tem sempre
um vinculo de classe social, ainda que não necessariamente tenha um caráter
imediato (ou um objetivo de enfrentamento) de classe. E quanto mais essas lutas
se vinculem a dimensões da produção social da vida, e se coloquem na
perspectiva da luta de classes, maior sua força (potencial) formadora; quanto
mais radical a transformação que se pretende, mais radical a transformação
humana que se necessita para fazê-la ( CALDART, 2012, p.549).
É
importante lembrar que a organização em movimento social vem se constituído a
partir das diferentes bandeiras de luta, incluído uma pluralidade de
reivindicações, o debate de temas transversais, relacionando as várias faces da
exclusão social e a demanda de novos direitos, isto tem implicado no
alargamento da concepção de direitos humanos e a ampliação da base das
mobilizações sociais. Sobre isso Antunes (1997) nos ajuda a pensar quando afirmar que:
outras modalidades de luta social (como a
ecológica, a feminista, a dos negros, dos homossexuais, dos jovens, etc.) são
como o mundo contemporâneo tem mostrado em abundância , de grande significado,
na busca de uma individualidade e de uma sociabilidade dotada de sentido
(ANTUNES, 1997, p.86).
Deste modo, a visão de movimento
social tem se distanciado da concepção classista existente no movimento
sindical, em que os operários lutavam por direitos em torno do trabalho e em
alguns momentos históricos em contraposição ao sistema econômico e social
vigente e pela construção de um projeto global de sociedade, na medida em que
se restringem as lutas cotidianas, limitadas as reivindicações setoriais,
desarticuladas de outras mobilizações, tornando-se paliativas e insuficientes
para mudanças estruturais maiores.
Caldart (2012) caminha nessa
direção com a seguinte ideia:
[...] um movimento social
terá um peso formador maior, á medida que se consolide como organização
coletiva e consiga formatar esta organização (suas relações sociais de
constituição, suas relações de trabalho), e suas formas de luta, de coerente
com objetivos sociais mais amplos e envolvendo diferentes dimensões da vida
humana. Em alguns casos, passa a ser referência para organizar o cotidiano das
pessoas: ser do movimento como uma relação social que formata as demais. Ás
vezes, a questão que move para a luta, e que constitui um movimento social,
projeta a formação de sujeitos exatamente pela radicalidade dos processos de
humanização/desumanização nela envolvidos, mas a estrutura orgânica criada
acaba não tendo força material suficiente para realizar o que a luta específica
projeta diminuindo seu potencial formador (CALDART, 2012, p.548).
Não
podemos perder de vista que as questões especificas, individuais e subjetivas
estão diretamente ligadas ao contexto de relações sociais marcadas pela
exploração da lógica do capital, logo qualquer movimento que não tenha clareza
dessa relação poderá está tão somente sendo absolvido por uma
institucionalidade e manutenção de uma ilusória ideia de participação social.
Antunes (1997) colabora com essa discussão ao ressaltar a importância da
articulação das ações imediatas a um projeto global e alternativo de sociedade.
Assim, ao trata dos movimentos
sociais e organização de classe na contemporaneidade, é de fundamental importância
considerar os problemas concretos e específicos dos determinados movimentos,
observando os objetivos comuns que apontam para a superação da sociabilidade do
sistema destrutivo do capital.
Para Antunes (2001) a classe
trabalhadora:
no mundo contemporâneo é
mais complexa e heterogênea do que aquela existente durante o período de
expansão do fordismo. O resgate do sentido de pertencimento de classe, contra
as inúmeras fraturas, objetivas e subjetivas, impostas pelo capital, é um dos
seus desafios mais prementes. Impedir que os trabalhadores precarizados fiquem
á margem das formas de organização social e política de classe é desafio
imperioso no mundo contemporâneo. O entendimento das complexas conexões entre
classe e gênero, entre trabalhadores “estáveis” e trabalhadores precraizados,
entre trabalhadores nacionais e imigrantes, entre trabalhadores qualificados e
trabalhadores sem qualificação, entre trabalhadores jovens e velhos, entre
trabalhadores incluídos e desempregados, enfim entre tantas fraturas que o
capital impõe sobre a classe trabalhadora (ANTUNES, 2001, p.227).
Fica claro,
portanto, que os diversos movimentos sociais, apesar de serem heterogênios,
complexos e fragmentados, expressam a luta da classe trabalhadora e demais
oprimidos contra lógica do capital e sistema político imposto. Na medida em que
entram em conflito com a classe dominante a fim de superar os mecanismos que
restringem seus interesses imediatos e particularizados, onde se propõe a
construir possibilidades de efetiva emancipação humana denunciando a lógica
destrutiva do capital e, acima de tudo, propondo novas relações sociais,
políticas e econômicas, fundantes de um novo sistema socioeconômico.
Uma destas
forças política articuladoras da classe trabalhadora tem sido o movimento sindical.
2.2 Movimento Sindical rural e a luta por
direitos
Em 1930 o Estado brasileiro sob o governo de
Getúlio Vargas cria o Ministério do Trabalho, responsável pela regulamentação
do direito a sindicalização, com a pretensão de manter o controle sob o movimento
operário e sindical, incorporando-o para a aparelhagem estatal, tornando-o
atrelado ao Estado. Afirma Coletti (1998) que:
Na década de 1930, a partir da
criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (Decreto n.º 19433, de
26/11/1930) e da promulgação da chamada ‘Lei de sindicalização’ (Decreto-Lei
n.º19.770 de 19/03/1931) teve início o funcionamento da estrutura sindical
oficial brasileira, cuja principal característica seria o atrelamento e
subordinação das organizações trabalhistas ao aparelho do Estado com o objetivo
de controlá-las e de amortecer a luta de classes. (COLETTI 1998, p. 35).
Com a legalização da sindicalização o Estado
consegue controlar a estrutura sindical e suas ações, isto é, o processo de
organização e movimentação dos trabalhadores. A partir daí muitos decretos e
leis foram sendo criados, inclusive em 1943 é vigorada a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT). Observa-se porem que nesse período as leis criadas ainda não
contemplavam os trabalhadores rurais e o sindicalismo rural.
Apesar da lei de sindicalização ter sido
regulamentada em 1931, foi somente em 1944, bem mais tarde, que o Estado
permitiu a sindicalização dos trabalhadores rurais, regulamentando formalmente
a sindicalização rural por meio do Decreto-Lei n.º 7.038 de 10/11.
Com o avanço das relações capitalistas no campo e o
processo de industrialização, o movimento sindical no campo adquire força e a
luta em defesa dos pequenos agricultores e de outros trabalhadores do campo
multiplica-se, estendendo-se por todo o país.
A partir dai nasce também a disputa pelo controle
da sindicalização rural em nível estadual e federal, já que, atuavam no campo
brasileiro diversas forças políticas (Partido Comunista Brasileiro – PCB,
diferentes vertentes da Igreja Católica, Ação Popular - AP, Ligas Camponesas).
Em 1949 o Partido Comunista Brasileiro - PCB, após
organização e realização da primeira conferência nacional dos trabalhadores
rurais funda a ULTAB, União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil.
Essa organização se destaca por sua militância na luta e defesa dos
trabalhadores do campo e na organização de associações e sindicatos em muitos
estados brasileiros na época. Até mesmo teve forte influência na efetivação das
leis trabalhistas para os camponeses, alem de pressionar a implantação do
Estatuto do Trabalhador Rural - ETR.
No entanto com a fundação em 1963 e o
reconhecimento em janeiro de 1964 da Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura - CONTAG, a ULTAB sai de cena.
A declaração a seguir confirma:
[...] em final de 1963 foi
fundada a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
Nela, o PCB ficou com a presidência ( Lyndolpho Silva que também era presidente
da União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil, criada em 1954, e
que agregava associações de lavradores de diversos pontos do país) e a
tesouraria (Nestor Veras), alem da maioria dos cargos. A AP ficou com a
secretaria (Sebastião Lourenço de Lima). Na composição geral a Igreja Católica,
que tivera importante papel na criação de sindicatos no Nordeste e no Sul do
país, ficou com dois cargos poucos importantes. (MEDEIROS, 2012, p.705).
Observa-se, portanto que a constituição da CONTAG
nasce da junção das representações de trabalhadores do campo. E que a
representação a nível nacional conta com candidatos das instituições atuantes
no campo.
Segundo Medeiros (2012):
A contag controlava extensa rede
sindical, difusa por diversos pontos do país, com orientações políticas
diversas e, em muitos casos, dominada pelo poder local e pouco afeita a
enfrentamento. Com a Aprovação do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural
(Funrural) em 1971, essa rede cresceu ainda mais em alguns estados, pois os
sindicatos tornam-se mediação privilegiada para que os trabalhadores recebessem
direitos previdenciários (aposentadoria, auxílio-doença, pensão), assistência
medica e dentaria (MEDEIROS, 2012, p.706).
Não se pode negar que a CONTAG cresceu e se
espalhou pelos estados brasileiros, incluindo e representando trabalhadores diversos
(assalariados, posseiros, arrendatários, parceiros, proprietários de terra que
trabalhava em regime de economia familiar), como previa a portaria nº 71, de 2
de fevereiro de 1965 que regulamenta a sindicalização da categoria trabalhador
rural.
A CONTAG é
uma das principais organizações e representações a nível nacional dos
trabalhadores rurais em todo o país e sua rede de atuação se intensifica ainda
mais com a criação e a aprovação do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural –
FUNRURAL, o que possibilita aos sindicatos mediar os processos e benefícios
previdenciários, possibilitando aos trabalhadores o direito e o acesso a
aposentadoria rural, auxílio-doença, pensão, assistência medica e dentária.
Conforme Medeiros (2012) “[...] ao longo dos anos de 1970, a CONTAG difundiu,
por meio de seus boletins, cursos de formação, encontros regionais e temáticos,
e da atuação de suas acessórias educacionais e jurídicas, noções tanto de
direito à terra, quanto de direitos trabalhistas (Medeiros, 2012,p.706).
Por outro lado, a elite brasileira, principalmente
o setor agrária dominante, isto é, os grandes fazendeiros, latifundiários e
empregadores rurais sentindo-se ameaçados pelo movimento social e sua luta por
reforma agrária, entra na disputa pelo controle da sindicalização, em favor de
seus interesses e a fim de controlar as organizações dos movimentos sociais no
campo brasileiro. Organizam-se politicamente em “defesa do monopólio
fundiário”, da concentração da propriedade de terra, criando entidades de representação
patronal como a Confederação Rural Brasileira (CRB) e a Sociedade Rural Brasileira
(SRB), argumentando que, “havia uma unidade entre todos os que viviam no campo,
fossem patrões ou empregados, e, portanto, bastava uma única organização que os
representasse” (Medeiros, 2012, p. 704-705).
Medeiros (2012) faz a critica destacando que:
Assim, essas entidades reagiram
fortemente á ideia de que os trabalhadores pudessem se organizar em sindicatos,
pois consideravam que, se criados, trariam pra o meio rural tensões classistas
que até então, segundo eles, só existiam nas cidades ( MEDEIROS, 2012, p.704-705).
Nesse contexto é de grande relevância considerar a
ideia de Marlene Ribeiro (2010) de que “uma contradição está presente e, ao
mesmo tempo, oculta na expressão movimentos sociais. Tendo por sujeitos
coletivos sociais, estes tanto podem significar a ação de transformar a
sociedade e a educação quanto à reação, ou a retroação para defender o status quo, ou manter a ordem vigente
das relações sociais de produção, que são relações de exploração do trabalho
alheio” (Ribeiro, 2010, p.28).
Em 1964 o movimento sindical como um todo, vive
momento delicado, pois, a elite brasileira, comandada pela oligarquia rural,
destacando-se a participação do Rio Grande do Sul e São Paulo, financia o golpe
contra o governo do presidente João Goulart, instalando a ditadura militar, sob
o governo de Castelo Branco. Tal situação interrompe o processo de organização,
mobilização e reivindicação do movimento sindical rural, utilizando-se
inclusive da repressão, perseguição e tortura para silenciar os trabalhadores, cassando
seus direitos, levando-os a prisão e até a morte de centenas de trabalhadores e
lideranças sindicais (Martins, 1984)
No entanto, ao invés do regime instituído extinguir
o direito a sindicalização, os militares ver nos sindicatos a possibilidade de
construção e manutenção da sua hegemonia e adota a política de organização
sindical corporativista, criando leis e normas de regulamentação da estrutura
sindical no campo. Aprovando o Estatuto do Trabalhador Rural - ETR, que previa
a criação de instituição de representação federativa e confederativa da classe
trabalhadora do campo e da classe proprietária rural.
A ação acima apontada desencadeou conflitos entre
as diversas representações dos trabalhadores rurais existente no campo e
revelou os diferentes interesses e projetos existentes no meio rural,
contribuindo para o aparecimento da política sindical assistencialista, através
do serviço social rural, com a finalidade de controlar a situação e manutenção
do quadro de associados.
Cabe resaltar que mesmo diante da forte repressão
policial, o movimento sindical rural, mesmo enfraquecido, não se calou e
continuou na luta por direitos, no enfrentamento a classe dominante e as
injustiças sociais imposta por ela, fazendo o embate ao modelo sindical
implementado pelo governo, muito embora centenas de sindicatos locais tenham se
adequado á proposta governamental.
Com o sinal de esgotamento do regime militar em
final dos anos 70 resurgem os movimentos sociais do campo e para além da luta
pela terra, acontecem greves de assalariados em diversas regiões do país, lutas
dos pequenos produtores por melhores preços para seus produtos, reivindicações
por educação, previdência, moradia, crédito, acessória técnica, entre outros.
É nesse momento histórico, especificamente em 1986
que se funda em Mutuipe o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, como forma de
enfrentamento a repressão política da época e o descaso com a classe trabalhadora
do campo. Esse movimento se torna mecanismo de organização e mobilização da
classe trabalhadora do campo e por meio dele, os trabalhadores reivindicam seus
direitos. Inicialmente a luta era pelos direitos trabalhistas, o reconhecimento
previdenciário da categoria (trabalhador rural), o direito a aposentadoria rural
para homens e mulheres do campo.
Nessa espoca o movimento sindical se insere também
na luta em defesa da democratização da saúde, reivindicando o direito aos
serviços públicos de saúde, através do acesso ao cartão do INAMPS (Instituto
Nacional de Assistência Medica da Previdência Social) que na época era restrito
a uma pequena parcela da população, a classe mais abastecida.
Os Sindicatos tem participação na luta
pela formulação da Constituição Federal de 1988, na Constituição Estadual em
1989 e na elaboração da Lei Orgânica municipal em 1990, com apresentação de
emendas e propostas de interesse da classe trabalhadora do campo. Em 1992 O
movimento sindical em MutuÍpe se insere na política partidária e tenciona
mudanças na política municipal, participando dos espaços de debate e construção
das políticas para o município, através da representação política no
legislativo.
O sindicato se insere em
diversas lutas (machas, manifestações, ocupações em espaços públicos,
congressos, fóruns) a nível regional, estadual e nacional, apresentando pauta
de reivindicação e atendimento aos direitos dos trabalhadores do campo e acesso
as políticas públicas. O movimento passa então a ser visto como ameaça ao
governo e aos grandes fazendeiros da época.
A fim de se fortalecer junto a
uma federação a nível estadual, o Sindicato de Mutuípe filia-se a FETAG/CONTAG
(Federação dos trabalhadores na Agricultura no Estado da Bahia).
Após anos de repressão do regime militar o movimento
sindical se reestrutura dando origem ao chamado “novo sindicalismo”.
Segundo Picolotto (2009):
“Este “novo sindicalismo” se
construiu com práticas que indicavam sua novidade no interior da trajetória do
sindicalismo brasileiro, mas do que representar uma etapa no processo
organizativo e de luta dos trabalhadores, este sindicalismo pretendeu ser uma
ruptura com as práticas estabelecidas no passado (principalmente de 1945-1964)
(PICOLOTTO, 2009, 10)
Logo se desejava com o “novo sindicalismo” romper
com um modelo sindical assistencialista, populista, burocrático, pelego,
atrelado ao governo.
Nesse contexto de construção do “novo sindicalismo”
entram na disputa os chamados sindicalistas “autênticos” representados pelos
metalúrgicos do ABC paulista e agregados de outras categorias, incluindo os
trabalhadores rurais. E os “moderados” representados por lideranças
tradicionais, ou seja, os chamados “pelegos”. Nesta conjuntura, nasce em 1983,
a Central Única dos Trabalhadores – CUT, além de outras centrais sindicais,
como a União Sindical Independente – USI, fundada em 1985, a Confederação Geral
dos Trabalhadores – CGT fundada em 1986 e a Força Sindical, fundada em 1991.
Nesse mesmo momento histórico, surgem também
criticas opositoras ao sindicalismo desenvolvido pela CONTAG. E com argumentos
contrario ao modelo de organização sindical desenvolvido por está entidade,
surgem outros atores sociais com novas propostas organizativas e diferentes
relações sindicais. A declaração a seguir afirma:
Aliado com o surgimento do “novo
sindicalismo” no campo, outros atores sociais também entram na cena política
nacional [...] mobilizando seguimentos específicos de pequenos produtores,
posseiros, arrendatários, assalariados etc. Surge o Movimento dos Trabalhadores
Rurais sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento
das Mulheres Trabalhadoras Rurais(MMTR), Conselho Nacional dos
Seringueiros(CNS), entre outros. A emergência destes novos atores alem de ter
tirado a exclusividade da representação política dos “trabalhadores Rurais da
CONTAG, fez com que a categoria política unificadora “trabalhador rural” fosse
“implodida”(PICOLOTTO,2009,p.10)
Nesse sentido a CONTAG não mais representa a
diversidade e especificidade das varias identidades constituída no campo
brasileiro, não apresentando jurisdição de representar os distintos
trabalhadores do campo, passado a disputar com outras formas de organizações e
representações sindicais a representação dos trabalhadores do campo.
Apesar de a CONTAG ser composta de uma ampla rede
de sindicatos e deter o monopólio sobre estes, de defender uma bandeira
política de luta pela reforma agrária e defesa dos direitos trabalhistas,
alguns elementos, como: o aparato institucional de regulação da representação
sindical que ditava o comportamento do sindicalismo rural e consequentemente o
projeto político da CONTAG, a unicidade sindical que previa uma única
representação sindical a nível municipal para o conjunto de segmentos do campo,
e a constituição que instituía a obrigatoriedade e o estabelecimento do imposto
sindical, foram determinantes para a concorrência de outras forças, pela
disputa da direção da organização e representação dos trabalhadores.
Além dessas questões, surgiram
outras, que permitiram e desembocou na construção de um “novo sindicalismo” no
campo brasileiro, a demanda por outros direitos, como, moradia, saúde
previdência, crédito, educação, direitos da mulher, entre outros direitos, alem
do direito trabalhista e de acesso a terra, também as transformações ocorridas
no mundo do trabalho a partir do ano de 1990, o surgimento das novas
tecnologias de produção e de gestão, o desemprego estrutural, a terceirização e
o trabalho informal, ainda a emergência de uma nova categoria que passou a
unificar grande parte do movimento sindical: a agricultura familiar (Picolotto,
2009).
Segundo Picolotto (2009):
Estas
mudanças nos projetos do sindicalismo rural causaram mudanças também nas suas articulações políticas. Promoveram
um realinhamento do sindicalismo rural da CUT em relação ao conjunto dos
movimentos sociais rurais, marcadamente um certo afastamento em relação a parceiros históricos – como a
CPT e o MST [...] e uma certa aproximação com o sindicalismo contaguiano, até
então um ferrenho oponente (PICOLOTTO, 2009,p.19)
A aliança CONTAG e CUT
favoreceram algumas ações unificada, demandadas pelo movimento sindical rural,
citamos como exemplo a conquista do PRONAF – Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar, política pública para os agricultores
familiares.
Picolotto (2009), afirma que:
[...] com
o relativo fortalecimento da identidade política da agricultura familiar, no
final dos anos 90, o sindicalismo rural da CUT na região Sul do Brasil inicia
um novo processo de rompimento com a CONTAG ao criar em 1999 a Frente Sul da
Agricultura Familiar, como uma organização promotora da agricultura familiar na
região ( esta organização articulava sindicatos, cooperativas e ONGs); e, em
2001, funda a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul
(Fetraf-Sul), como uma organização sindical da agricultura familiar da região,
com vinculação cutista (PICOLOTTO, 2009,p.21)
Fica claro que, na medida em
que a identidade da Agricultura Familiar vai se fortalecendo, a CUT, através da
Federação dos Trabalhadores da Agricultura familiar – FETRAF redireciona o
sindicalismo rural, atribuindo-o por um lado, novas identidades políticas e
sociais e por outro, tenciona a quebra da estrutura sindical oficial, criando
uma nova estrutura com suas próprias regras, dissolvendo a ideia de unicidade
sindical prevista pela legislação.
O processo de reorganização
sindical fica ainda mais nítido com a fundação da Federação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar, FETRAF – BRASIL, em 2005 e a proposta de
estender por todo o país o processo de reorganização e reestruturação sindical
da Agricultura Familiar, através desta federação, proposto no I Encontro
Nacional Sindical da Agricultura Familiar realizado em 2004.
Considera-se que essa
organização de representação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar, tem
crescido nos últimos anos em todos os níveis, nacional, estadual e federal e
tem construído outra estrutura sindical, reconhecendo os agricultores de suas
bases como sujeitos de direitos. A declaração a seguir confirma:
“Nos últimos dez anos os Agricultores e Agricultoras Familiares
conseguiram muitas conquistas. Uma das mais importantes é a estrutura
organizativa que se constitui a partir da base, tanto no campo sindical quanto
na organização econômica da produção familiar. São milhares de associações,
cooperativas de produção e de crédito, redes de comercialização, agroindústrias
familiares, todos buscando cada vez mais fortalecer as propriedades familiares,
assentamentos da Reforma Agrária e empreendimentos sustentáveis e solidários”
(http://www.fetraf.org.br/conteudo/1/quem-somos).
Nota-se, portanto que a organização em Federação
dos Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar se inicia no Estado de Santa
Catarina em 1977 e se fortalece posteriormente com a fundação da FETRAF – SUL
nos estados de Rio Grande do Sul e Paraná em 2001. Esse movimento se
intensifica expandindo para outros estados e regiões do país. Estima-se que
hoje a organização da FETRAF atinge dezoito estados, incluindo mais de 600
sindicatos e associações sindicais em mais de 1000 municípios em todo o Brasil
com aproximadamente 500 mil agricultores e agricultoras associados.
(http://www.fetraf.org.br/conteudo/1/quem-somos).
Antecede a FETRAF-BRASIL a fundação da FETRAF no
estado da Bahia em 2004. Esta nasce das reflexões acerca das necessidades e
demandas dos agricultores e agricultoras familiares. Resaltamos que o sindicato
de Mutuípe esteve entre as organizações que pautaram a construção de uma nova
federação, que de fato representasse e atendesse aos interesses dos
trabalhadores da agricultura familiar, inclusive fez presente no I Congresso da
Agricultura Familiar do Estado da Bahia em 2004.
A FETRAF – BAHIA desenvolve em quase 90 municípios,
incluindo o município de Mutuipe “ações voltadas para a organização, ação
e formação do trabalho rural, com práticas voltadas para, a construção de
conhecimentos sobre o trabalho rural, educação do campo, desenvolvimento
sustentável e solidário, fortalecimento das lutas pelo acesso a terra e
políticas públicas para o meio rural [...]” ( http://www.fetrafba.org.br/ler_conteudo.php?id=176).
Dentre as políticas pautadas e
defendidas pela FETRAF-BA está à política de Educação do Campo. Esta se materializa nas experiências
desenvolvidas no projeto Semear, projeto educacional de intervenção da
FASE/BAHIA, FETRAF – BAHIA e CUT em parceria com as Secretarias municipais de
Educação de Mutuípe e Vitória da Conquista no estado da Bahia. O projeto Semear
tem como proposta política pedagógica o fortalecimento e a ampliação do acesso
e permanência de jovens agricultores e agricultoras familiares no sistema
formal de ensino através do processo de elevação de escolaridade e possibilita
além da educação básica, a educação profissional e sócio político de dirigentes
sindicais e agricultores familiares.
Segundo o Projeto Político
Pedagógico - PPP do Semear:
A concepção do processo de formação do curso se
insere na socialização, a produção e a construção de conhecimentos articulados
as experiências de vida, de luta social e do mundo do trabalho dos sujeitos,
que permite a construção de um novo
conhecimento sobre o trabalho, as relações de trabalho, organização
social e sindical, visando o desenvolvimento sustentável e solidário da Bahia.(
SALVADOR, 2006)
Nesse contexto
compreendemos que o projeto político pedagógico do Semear basear-se numa
educação que considera o contexto sócio histórico de vida dos sujeitos, o
espaço, território de pertencimento, as vivencias, a relação de trabalho, de
produção, as formas de organização dos envolvidos no processo formativo.
A proposta de
Educação do Campo consolidada pela FETRAF – BAHIA se concretiza também através
do PROEJA CAMPO com a pedagogia da alternância. Este projeto nasceu inspirado
no projeto Semear e se insere na modalidade de Educação de Jovens e Adultos –
EJA com elevação de escolaridade ao ensino médio, concomitante a Educação
Profissional - técnico em agropecuária e se destina aos agricultores
familiares, em especial, a lideranças sindicais.
O PROEJA CAMPO
está sendo desenvolvido em parceria com a Superintendência da educação
profissional – SUPROF, com o Centro de Educação Profissional do Semiárido- CEEP
Semiárido, e a Escola Família Agrícola Avanir Cunha em Valente-Ba, com período
de duração previsto para três anos.
A proposta curricular
do PROEJA CAMPO, baseando-se no eixo temático: Agricultura Familiar,
desenvolvimento e Organização social, alem de da inclusão de outras temáticas
que envolva recortes /dimensões e problemas da realidade do camponês e da
agricultura familiar. Tem como princípios metodológicos um processo de
construção de conhecimento que parti dos conhecimentos já assimilados, das
vivencias, práticas e cotidiano dos seus sujeitos, o respeito ao educando, a
sua cultura e os seus saberes, concebendo o trabalho e o conhecimento coletivo
como principio educativo e considerando outros espaços família/comunidade como
espaço de conhecimento.
Ao defender e
propor uma educação básica que atenda e considere no processo formativo as
necessidades e especificidades dos trabalhadores e trabalhadoras do campo a
FETRAF afirma seu compromisso com o movimento de construção e concepção da Educação
do Campo.
CAPITULO
III
SOBRE
O CAMPO: DESVELANDO AS CONTRADIÇÕES SOCIAIS
A
pesquisa desenvolvida com os dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores rurais
na Agricultura Familiar[4] - SINTRAF, de Mutuípe
busca justamente nesse cenário de movimento e organização dos trabalhadores do
campo identificar como está sendo construída a relação movimento e Educação do
campo. Assim nesse capitulo buscamos dialogar com os dirigentes sobre as
contradições, limites e possibilidades presentes no campo, especificamente no
território[5] em que estão inseridos, buscando
entender os projetos de desenvolvimento que está sendo pautado e confrontado no
campo brasileiro.
Percebemos
diversas contradições presentes no campo da agricultura familiar no município
de Mutuipe. A pesquisa aponta que embora a agricultura familiar no município,
seja responsável pela sobrevivência de trabalhadores, homens, mulheres, jovens
e crianças do campo, com um potencial climático, solo fértil, onde tudo que se
planta dá, capaz de gerar trabalho, renda e sustentabilidade no campo, esse
espaço vem sendo contrariado pela expansão da monocultura do cacau, por uma
política de desenvolvimento tecnológico e comercial que agride o meio ambiente,
principalmente as matas, através do desmatamento, e consequentemente dos rios e
afluentes, sem falar no desejo de produzir numa escala maior, fazendo assim o
uso acerbado de produtos químicos e agrotóxicos.
A
declaração a seguir é extremamente forte e confirma o que aqui está sendo
discutido:
“Em
Mutuipe ensinaram a gente uma tal de monocultura , certo? E deixou todo mundo
quebrado, e ai, assim, todo mundo foi atrás dessa monocultura, o cacau, né, E
ai, é... tem um momento que as pessoas
tão passando dificuldade , o cacau a gente não conseguimos avançar agregando
valor a ele , o que foi que aconteceu? O cacau veio a baixa, nós não tinha uma
agricultura diversificada sustentável, não tinha... Se a gente plantasse um
pouquinho de banana, mandioca, aipim, de
fruta, de outras coisas, a gente superava a crise do cacau. Ai o que aconteceu?
A gente ficou só na monocultura e não diversificou a sua cultura, e hoje nós
sofremos por causa disso, entendeu? Se concentrou a riqueza na mão de poucas
pessoas. Poucos homens de armazéns aqui em Mutuipe ficaram rico. Poucas
pessoas, não passa de cinco ou seis e nós ficamos, assim, na esperança né,
dessa agricultura familiar transformada. Um dia se nós não tiver a capacidade
de ter nossa cooperativa, né, nossa pequena fabrica né, e transformar ela, pra
ganhar um pouquinho de dinheiro a gente
vai sofrer, por que a monocultura não é sustentável, tem que trabalhar a
agricultura familiar” (DA).
É nítida, a preocupação do
movimento sindical expresso na fala de um dos dirigentes entrevistados, com o
campo da agricultura familiar no município, percebemos que esse modelo de
desenvolvimento advindo da monocultura, contribui somente para a concentração
de renda nas mãos de poucos, provavelmente daqueles que detém maior área de
terra, os meios de produção e comercialização e a exploração da força de
trabalho.
A realidade vivenciada no
município de Mutuipe não se difere da realidade agrária brasileira,
representada também por um modelo de desenvolvimento que concentra terra e
riqueza nas mãos de poucos, através da produção de grãos em grande escala, e da
pecuária extensiva para o abastecimento, controle e manutenção do mercado
internacional.
Esse modelo de desenvolvimento
tem ocasionado problemas dos mais diversos, desde o elevado índice de
concentração de renda, terra e da produção agrícola até os problemas sociais e
ambientais. As contribuições de Stedile (2012) a acerca da questão agrária no
Brasil nos ajuda a construir o debate sobre os problemas ocasionados pelo
modelo de desenvolvimento tecnológico e capitalista, ao afirmar que:
Do ponto
de vista social percebemos esses problemas na extensa desigualdade social que essa
estrutura econômica gera no meio rural brasileiro, onde existem 7 milhões de
pessoas que vive ainda na pobreza absoluta e 14 milhões de adultos analfabetos.
O programa Bolsa Família distribuído para 11 milhões de famílias que passam
necessidades alimentícias, é revelador da tragédia social no país. Alem disso,
a maioria dos jovens que vive no meio rural não tem acesso ao ensino
fundamental completo (oito anos), nem ao ensino de nível médio e muito menos ao
ensino superior (STEDILE, 2012, p. 643).
Portanto
esse modelo de desenvolvimento hegemônico hoje no campo brasileiro não serve a
classe trabalhadora. E por isso urge a necessidade de pautarmos e construirmos
outro projeto que dê conta de garantir vida digna no campo e na cidade, com
distribuição de renda, de trabalho e da produção advinda do trabalho, reforma
agrária, segurança alimentar e sustentabilidade[6] ambiental.
Outra
contradição apontada pela pesquisa no campo da agricultura familiar no
município de Mutuípe é a falsa ideia de que no município há, uma “reforma
agrária natural” [7].
Eis
alguns depoimentos:
[...] o
que nós temos aqui é o agronegócio disfarçado, uma exploração do pequeno
disfarçado de agricultura familiar. Quando você pega um agricultor que você faz
uma entrevista com ele, que você procura saber de onde vem a renda dele. Ele
trabalha de segunda a sexta para o patrão que tem 5 a 6 empregados e que não
tem nenhum registro e que se acontecer alguma coisa ele tá ferrado. Ou ele tem
o sindicato que passa a mão na cabeça, ou ele morre de fome, por que ele é
explorado na sua atividade e não é recompensado por isso e muitas das vezes
pela própria necessidade que ele tem, pela falta da terra que ele também não
tem para trabalhar, uma boa parte não tem a verdade é essa. Você tem uma tarefa
de terra para sustentar a família, então você não tem terra para tirar o
sustento da família, bem poucos conseguem na agricultura que a gente tem, que é
só a da monocultura do cacau, praticamente, então você tem que se submeter a
exploração daqueles chamados fazendeiros, e ainda disfarçado de agricultor
familiar (DB)
[...]
Cadê a terra? Ninguém se preocupa em brigar pela terra, ver ninguém brigando pela
terra... Mutuípe hoje é mesmo que ser uma posse. Eu digo assim, nós hoje temos
uma posse para viver. Lá em casa o
terreno era do meu pai, pra dividir pra mim e mãe, mãe vendeu a parte dela, só
ficou o meu, já vem os três filhos, já dividir não tem mais nada, cada um já
tem um filho, vai dividindo. A gente ver que a terra vai virando posse[8] só pra ter uma casa. E tanta
terra pelo mundo desocupada (DA).
É intrigante a gravidade das
contradições evidenciadas nesses depoimentos. Primeiro nos questionamos como
garantir a constância e autenticidade da agricultura familiar se há ainda um
número significativo de trabalhadores no campo sem terra para produzir?
Segundo Legislação especifica,
decreto nº1. 946 de 28 de junho de 1996, Lei nº11. 326 de 24 de julho de 2006,
especificamente no seu artigo 3º se enquadra como agricultor familiar o
trabalhador que desenvolve atividades no meio rural com apoio da mão de obra
familiar e detém área inferior a quatro
módulo fiscal.[9]
No município de Mutuípe a
média para cada módulo fiscal é de 35 hectares de terra. Os camponeses possuem
pequenas propriedades, poucos chegam a possuir 35 hectares e os que possuem
grande parte da área já estão ocupada com a cultura do cacau.
Assim embora os trabalhadores do campo se
enquadrem positivamente por esse viés, na agricultura familiar, por outro lado
sofrem por não possuir terra suficiente para garantir a sobrevivência familiar,
com qualidade de vida. Assim muitos trabalhadores se verem obrigados a migrar
para os grandes centros em busca de trabalho e renda, outros vendem a força do
seu trabalho para complementar a renda e garantir o sustento da família, tantos
outros vivem em situação de miséria e extrema pobreza.
Entre
os depoimentos coletado pela pesquisa há também a verbalização sobre outros
problemas, alem da monocultura e da falta de terra para produzir. A declaração
seguir é esclarecedora:
Se a
gente pensar direitinho o que é a agricultura familiar. Em um hectare de terra
dá pra sobreviver tranquilamente da agricultura familiar. Eu acho que está
precisando mais de acessória técnica, de incentivo para agricultura familiar.
Por que se tem uma acessória técnica de incentivo para mostrar que a
agricultura familiar dá certo o pessoal com certeza vai investir na agricultura
familiar e vai dá tudo certo lá na roça... A minha região lá é uma região
pobre, mas que o povo vive da agricultura familiar realmente. O problema é que
o pessoal tem vergonha de trazer para feira para vender, muitas vezes prefere o
que comeu, comeu, o que não comeu dá aos vizinhos. E os que conseguem, vendem
lá mesmo na roça para o atravessador, por “preço de banana”[10]. (DC).
É
importante notar que o campo da agricultura familiar sofre por não contar com
uma acessória técnica qualificada e diferenciada que de fato atenda a realidade
e a especificidade da categoria, como também há problemas com relação ao
mercado, a comercialização do excedente produzido. O que tem inviabilizando a
agricultura familiar.
3.1 Compara-se ao agronegócio: no fundo a
gente está tudo atrás do agronegócio.
Eu
penso diferente sabe. A gente ver as associações aqui, a gente quando faz um
suco no liquidificador pequeno, a gente já está comprando o industrial, né, pra
fazer mais suco. Agora tem os projetos, e o que é que a gente quer? Essa semana
essa menina da associação disse assim: já comprou as peças tudo só falta a
pingadeira. O que é pingadeira? Botar a massa dentro daquele negoço e ela vai
em cima da assadeira e já botou os biscoitinhos, mais de 100 kg em uma hora.
Como é? Que renda vai trazer? Qual é a diferença? a gente tá virando o que?
(DA)
...
você ver hoje, ai nas Fazendas é só botar um motor nas costas , ali ô, nego vai
embora, um só, faz o trabalho de botar 10 , 20 homens pra trabalhar , fazer uma
limpeza de um pasto... (DA)
Mas
isso funciona com a gente também, só basta a gente crescer um pouquinho que vai
fazer a mesma coisa (DC).
É
surpreendente a capacidade problematizadora dos depoimentos. Os questionamentos
e provocações levantaram no grupo um debate consistente sobre o atual modelo de
desenvolvimento que estamos vivenciando. O reconhecimento do quanto estamos
envolvidos pelo sistema, e com o modelo de desenvolvimento tecnológico e
capitalista, a ponto de desejar nos igualar a ele. Afirma um dos diretores:
Há
ainda aquele coisa do pequeno ainda querer ser grande utilizando as formas que
os grandes utilizam. Que é o desmatamento da pouca área que tem, que é o uso de
agrotóxicos na pequenas propriedades achando que vai lucrar muito por que
aquele outro vizinho ficou rico daquela forma. Nós tínhamos uma cooperativa,
mas foi fechada por que o pequeno ainda não acredita no pequeno, por causa do
capitalismo, eu tenho que vender aqui e receber logo aqui. (DB)
Constatamos nesse depoimento a
situação concreta de opressão, tratado por Freire (2011) na obra A pedagogia do
oprimido: há “em certo momento da experiência existencial dos oprimidos, uma irresistível
atração pelo opressor, pelos seus padrões de vida. Participar destes padrões
constitui uma incontida aspiração. Na sua alienação querem, a todo custo,
parecer com o opressor. Imita-lo. Segui – ló” (Freire, 2011, p.68).
Nos últimos anos o Estado
brasileiro tem disponibilizado para a agricultura familiar diversos mecanismos
de organização e comercialização da produção, através das políticas e programas
de governo (PAA, PNAE, PRONAF etc.), isso por um lado tem garantido renda,
trabalho e mercado para os agricultores familiares, por outro, tem forçado o
investimento na modernização e aquisição de maquinas e de novos equipamentos
para aumentar e valorizar[11] a produção agrícola. Está
ultima questão é preocupante e nos sucinta os seguintes questionamentos: A
política de modernização que está sendo oferecida favorece a agricultura
familiar? Esse modelo de desenvolvimento serve aos trabalhadores do campo?
Analisando
essa situação, a partir do processo global entendemos a modernização como um
risco para a agricultura familiar, dado, que ela gera profundas transformações
nas relações de trabalho e de produção camponesa. Alentejano (2012) nos ajuda a
pensar sobre isso, ao afirma que:
[...]
Esta imposição ideológica da modernização passa pelo convencimento do agricultor
no que diz respeito a superioridade das formas modernas de produzir em relação
as tradicionais, e seu impacto é expressivo, por que alem de reforçar a
expropriação econômica, representa uma forma de expropriação do saber, pois
torna os camponeses dependentes, uma vez que não mais dominam as técnicas e os
processos produtivos (ALENTEJANO, 2012, p. 480)
Não
podemos perder de vista que a modernização e o “desenvolvimento tecnológico não
é uma atividade socialmente neutra, mas, sim, decorrente das leis gerais da
acumulação do capital [...] Os capitalistas devem renovar seus produtos para
preservar mercados e lucros, frente à ameaça da concorrência” (Katz, 1996,
p.10).
É
necessário, portanto construir esse debate junto aos trabalhadores da
agricultura familiar caso contrário correremos o risco de está fortalecendo
somente as relações capitalistas de produção, tornando o campo lugar de
negócio.
3.2 Processos de luta e políticas públicas
A
pesquisa demonstra que o projeto de desenvolvimento do campo pautado pelo
movimento sindical é contrario a esse modelo de produção capitalista. Os
processos de luta e as ações políticas desenvolvidas por este movimento
comprova sua convicção de que este modelo que ai está posto não serve e nuca
serviu a classe trabalhadora.
As
falas dos entrevistados comprovam sua convicção de que é possível viver no
campo com qualidade de vida:
É
possível viver bem no campo sim, temos muitas experiências que demonstra que a
agricultura familiar é viável e consegue sim garantir a permanência qualificada
de muitas famílias, temos hoje grupo de mulheres, organizados em associações
produzindo alimentos para merenda escolar, pessoas que já conseguiram mudar de
vida, morar com dignidade, se alimentar bem, acessar políticas publicas,
advindas da nossa própria luta como habitação rural, Pronaf, acessória técnica
diferenciada, que orienta no sentido de produzir agroecologicamente visando a
segurança alimentar, a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade (DB).
Nota-se,
portanto o reconhecimento de que com o acesso as políticas públicas são
prováveis garantir a permanência autônoma e responsável do homem, da mulher e
do jovem no campo. Vale resaltar, porem, que são poucos os trabalhadores do
campo que conseguem acessar essas políticas, geralmente aqueles que possuem um
nível de conscientização e organização maior. A grande maioria dos camponeses
se encontra ainda excluídos do direito e acesso as políticas públicas.
Não
se pode perder de vista a seguinte afirmação:
No século
XIX para conquistar políticas publicas e direitos, os trabalhadores tiveram de
conseguir também o direito de associação, organização e expressão política. Os
sindicatos e associações de trabalhadores eram proibidos pela legislação
estatal e vistos como atentado ao direito de propriedade e a liberdade do
capital. Portanto, os direitos sociais e trabalhistas, o direito ao voto de
homens e mulheres, direitos civis e políticos e as políticas públicas nas áreas
de educação, moradia, saúde, assistência social, entre outras, são produto da
organização e da luta dos trabalhadores e demais oprimidos (TAFFAREL, JÚNIOR e
ESCOBAR, 2010, p. 80).
Nesse sentido observa-se que
os entrevistados reconhecem sua participação na luta por direitos[12], inclusive defendem essa
ideia, utilizam a favor da conscientização dos trabalhadores e do
fortalecimento do movimento, em prol de manter as políticas já conquistadas,
expandir o acesso a todos os trabalhadores e tencionar a concretização de
outros direitos.
No entanto não podemos
esquecer que “o direito [e o acesso as
políticas públicas] não emancipa ninguém. São as próprias pessoas, livres,
iguais e, especialmente, interagindo dentro de organizações, movimentos
populares, partidos políticos, sindicatos, associações, descobrindo-se como
agente de sua história e da história do seu pais, [e do seu território], aprendendo a intervir e intervindo
coletivamente na sociedade, que se emancipam” (Correia, 2012, p.189 [ grifos
meus]).
O educador Freire já dizia que a ação para
liberdade tem que ser construída com eles e não para eles, a partir do diálogo
crítico e libertador (Freire 2011).
É
revelador os seguintes depoimentos:
Por
que naquela época a gente ia pra rua? Por que a gente era a parte oprimida, e a
gente nem tava no poder, nem a gente tinha os direitos que a gente queria ,
então a gente lutava, lutava pelos direitos, hoje a gente conseguiu muitos
direitos.( – DA)
Quando o
sindicato foi fundado a 27 anos, já foi com o intuito de mudar a nossa
realidade, a realidade do homem e da mulher do campo e da política agrícola que
era desenvolvida na região, no estado, no país e no município... No inicio a
nossa luta era mais pela garantia dos direito trabalhistas e previdenciários, a
luta era contra uma política em que a agricultura não era respeitada, então não
era valorizada e o trabalhador rural era explorado pelo patrão... Depois
lutamos por outros direitos, a terra, a moradia, a educação, a saúde, a
crédito, a assistência técnica. Então em 2004 descontentes com a federação que
nós era filiados, o sindicatos fundaram a FETRAF com um novo modelo de
agricultura familiar. Que modelo era esse? Um modelo que viesse garantir a
permanência do homem no campo com dignidade, com sustentabilidade e com
responsabilidade econômica, ecológica, agro sustentável, que manter-se o homem
no campo de uma forma digna. Com essa federação travamos muitas lutas e
garantimos alguns direitos.(DB )
Para
construir a luta do sindicato, e este movimento de organização dos
trabalhadores enfrentamos muita dificuldade na época, começou uma luta com
poucas pessoas, mas com muita fé em Deus, a gente enfrentou muita dificuldade
nessa espoca, tinha que fazer as reuniões nas casas das pessoas, debaixo dos pé
de arvores, nem todos aceitavam, nos prédios a gente não podia ir por que a política daquela época era contra, não
aceitava, a gente lutava nas comunidades, indo nas casa do povo,
conscientizando o povo, muitas vezes os pequenos como nós, não acreditava na
luta e iam atrás dos políticos, que orientava ao povo ao não ir atrás desse
povo não, que eram comunistas ia tomar a terra do povo toda e os homens não
iriam ter direito e nem as famílias,quem era agente? Esse povo besta, esse povo
pequeno, mas a gente não desistiu e
continuou a luta até organizar os trabalhadores e fundar o
sindicato.Hoje a nossa luta continua firme e forte e com as entidades parceiras
Fetraf, Fase, Associações defendemos e trabalhamos em prol de uma agricultura familiar diversificada,
sustentável e agro ecológica, de garantia de direitos. Então é isso que o
sindicato vem fazendo como trabalho de base, nas reuniões nas comunidades, no
dia-a-dia no próprio sindicato, nas assembleias, nos congressos, na
participação dos mais diversos conselhos e conferencias municipais, estaduais e
regionais, na participação dentro do território Vale do Jequiriça (DA)
Desta
forma, percebe-se que a luta coletiva constitui-se mecanismo importante para
conquista e materialização dos nossos direitos, mas para de fato os direitos
(humanos, coletivos, individuais, sociais, econômicos, políticos entre outros)
tornarem real, a todos, é necessário construir outro projeto de sociedade, que
dê conta de superar os limites da sociedade capitalista, em outras palavras, “a
luta por política pública e direito deve ser articulada com a luta pela
superação do capital” (Taffarel, Júnior e Escobar, 2010, p. 80):
“Para tanto, é indispensável uma leitura
sempre critica do direito e a percepção de que a superação somente se faz a
partir de uma sociedade mobilizada” (Correia, 2012, p.198). Parecem-nos
indiscutível o principio da coletividade na construção de uma sociedade justa,
emancipada e libertaria.
Pelo teor das discussões
traçadas até aqui se percebe que é impossível discutir educação do campo sem
adentrar as questões que estão diretamente ligadas ao projeto de desenvolvimento
de campo e de sociedade. Por que a luta pela terra, a luta por direito e por
políticas públicas, antecedem, a luta pela educação. E pensar no
desenvolvimento do campo visando à classe trabalhadora exige pensar em outro
projeto de sociedade, outro projeto de vida para o campo e a cidade.
É necessário reconhecer a
existência dos distintos projetos de classes para educar o povo, tendo clareza
que um, tem como principio a emancipação, através de uma escola que parta da
realidade concreta dos trabalhadores, que dê conta de prepara-los para entender
a suas relações de produção, de trabalho, de sobrevivência, isto é, “da
problematização dos homens em suas relações com o mundo” (Freire, 2011, p.24).
O outro, a alienação, para manutenção da ideologia dominante e da estrutura
histórica e hegemonicamente construída.
Acredita-se, portanto que o
projeto transformador, socialista, requer uma educação capaz de romper com o
processo de alienação das ações de produção da vida.
Diante
dessas constatações dos mais diversos paradoxos que envolvem a vida no campo,
nos questionamos
o lugar que a educação ocupa no
interior das relações cotidianas do campo, com destaque para a perspectiva dos
trabalhadores da agricultura familiar.
CAPITULO IV
SOBRE EDUCAÇÃO DO CAMPO: A ÓTICA DO SINTRAF DE MUTUÍPE.
O
debate traçado no capitulo anterior, suscita-nos, diversas questões e leva- nos
a indagar-nos: A escola do campo tem ajudado na compreensão das
questões que se relacionam diretamente com a vida dos seus sujeitos? Tais como
a produção agrícola familiar, a terra, o trabalho, os recursos naturais, a
soberania alimentar, a distribuição de renda e de terra no município, no estado
e no país, entre outras questões? E o movimento sindical rural, tem realmente
construído possibilidades para o entendimento a cerca destas questões no
processo de mobilização e organização da classe trabalhadora do campo? Como o
movimento sindical entende a educação do campo nesse processo de
desenvolvimento que está sendo confrontado no campo brasileiro?
É muito difícil compreender como
os dirigentes do SINTRAF de Mutuípe entendem a educação do campo. Primeiro por
que entre eles, existe uma forte divergência de ideias, conflitos, contradições
e preocupações que permeiam o palco da educação do campo. Segundo, por que,
embora unidos pela mesma causa, são sujeitos diferentes, com experiências de
vida diferentes, com processos formativos diferentes, com experiências de luta
diferentes.
Notamos que apenas três dos
dirigentes sindical conseguiram defender e sustentar a sua ideia com relação a
educação do campo, outros apresentaram dificuldade de fazer uma articulação
direcionada a essa educação. Portanto
não sei se devo atribuir essa dificuldade, a minha falta de habilidade para
lidar com essa situação, a técnica utilizada pela pesquisa, ou ao processo
formativo desses sujeitos, que me parecem não dá conta de pensar a educação
para além da instrução escolar.
Em alguns dos depoimentos
percebemos que os dirigentes sindicais concebem a educação como direito humano
e acham justo os sujeitos do campo acessar os bens culturais historicamente acumulados
pela humanidade, o conhecimento sistematizado e o conhecimento tecnológico.
Eu acho que a educação
do campo só vai realmente acontecer, mesmo, de verdade, quando a qualidade de
ensino ser a mesma, quando todo mundo tiver acesso a esse direito, os jovens,
os professores só vai ter vontade de ficar no campo quando a inclusão digital
chegar no campo, por que enquanto a
inclusão digital ficar só na rua, vai ficar naquela historia, ter que ir pra
rua, pra você aprender mais, pra você ficar interado das coisas, pra você ver
internet, então a educação do campo só vai realmente acontecer, quando os
governos, ou sei lá quem, despertar, e também o que existe na cidade existir na
roça, principalmente a inclusão digital, por que sem isso é bem complicado( entrevistada (DC).
Ao reconhecer a educação como
direito humano, reconhece também o Estado como promotor principal desse
direito. Contraditoriamente não se reconhece como agente importante na
concretização desse direito, não consegue enxergar o movimento sindical como
agente social “capaz de recorrer às possibilidades oferecidas pelo sistema de
justiça para impedir, evitar a continuidade ou reparar a violação do direito a
educação” (Haddad, 2012, p.215).
Outra questão preocupante e
contraditória que surgiu no ato da pesquisa é com relação ao fechamento das
escolas do campo e as turmas multisseriadas. O movimento sindical não consegue
tomar uma posicionamento coerente diante destas questões, não deixam claro o porquê.
Pareceu-nos que a educação não aparece como prioridade na pauta do movimento, e
que os dirigentes sindicais não sabem como lidar com o assunto em sua
complexidade. Há divergências nos posicionamentos dos dirigentes sindicais,
mais o que prevalece é o discurso travado pela concepção hegemônica de
educação, concordando com o fechamento das escolas do campo e com a ideia de
que a escola multisseriada é ruim:
Quanto mais fechar
escola melhor, como é que vai ficar alfabetização, primeira, terceira e quarta
tudo junto? Como é que essas crianças vai estudar? Então lá na minha comunidade
tem uma sala só pra quarta serie, trás os meninos da comunidade vizinha e
completou, se o da comunidade vizinha não vem para completar a turma, não tinha
outro resultado. (entrevista DA)
Pelas disciplinas ainda
vai, por que tem os dias para cada disciplina, português , matemática,
historia, o que eu discordo e não vejo outro jeito, até tirei a minha filha da
roça, por que a minha tinha seis anos na espoca, numa sala com alunos de 10, 20 anos, menino que não sabia
escrever, com quem sabia, a professora por mais que queria da atenção, um fica
descoberto, na sala multisseriado. Eu sou a favor da turma por serie, mas como?
Numa comunidade que tem 20, 30 alunos, não tem só de 4ª serie, é uma mistura, a
professora fica louca e não consegue atender todo mundo. Não tem jeito, onde
pode juntar as regiões, bom, mas tem lugar que não pode fazer isso, e ai?(
entrevista DC)
Em contraponto:
Até onde vai está
mistura de multisseriado, e por que isso está acontecendo também? Por que está
fechando muitas escolas na zona rural? Então tem uma consequência disso. Tá
faltando aluno? Se foi feita escolas na roça é por que tinha aluno, se tá
fechando é por que tá faltando, tá faltando por que? Por que o êxodo rural está
aumentando, então tá faltando política pública para manter o homem no campo.
Então a questão não é só, por que ninguém permanece mais na roça. É uma questão
de segurança que você não tem, saneamento básico, você não tem, qualidade das
escolas é péssima na zona rural, os alunos que vem pra cidade a qualidade do
transporte também não educa, por que a educação começa quando você sai de
casa.(entrevista DA)
Nos dois primeiros depoimentos
é nítida a ausência de uma fundamentação coerente com a proposta do movimento
da classe trabalhadora. Então nos questionamos, até que ponto, o movimento
sindical dá conta de pensar as contradições existentes e alterar a condição de
exploração e exclusão da classe trabalhadora do campo? Não resta duvida de que
há uma necessidade de empoderamento do SINTRAF com as questões que permeiam as
relações sociais vivida na escola, sobretudo nas escolas do campo. Por exemplo,
eles precisam compreender que a dinâmica do campo é diferente da dinâmica da
cidade, que a multisseriação é uma especificidade do campo. No entanto
entendemos que não é uma tarefa muito fácil olhar as escolas multisseriadas a
partir desse olhar, se o critério que mede a qualidade no imaginário das
pessoas ainda é a comparação entre a cidade e o campo, o evoluído e não
evoluído, o seriado e o multisseriado. (Rocha e Hege, 2010, p.11).
Prevalece-se a ideia de que o campo, a escola
do campo, os sujeitos do campo, as especificidades do campo é um problema a ser
superado. Rocha e Hage (2010), no texto: escola de direito reinventando a
escola multisseriada trata dessa questão, e para eles, as imagens “tão
negativas do campo e de suas escolas tiveram e tem uma intencionalidade
política perversa: reduzir o campo, suas formas de existência e de produção de
seus povos à inexistência“ (p.10). A classe trabalhadora do campo precisa está
ciente disso.
No último depoimento
percebemos que o dirigente se esforça para entender e explicar as contradições
que envolvem a política de fechamento das escolas do campo. Para isso faz um
retrato da realidade do campo. Ele tem convicção de que pensar a escola do
campo, requer entender as relações sociais no contexto da comunidade, isto é, o
campo precisa ser pensado a partir de sua própria dinâmica. Ele tem consciência
de que o multisseriado é uma especificidade da escola do campo, que a escola do
campo não pode ser fechada, no entanto existe um distanciamento entre o
discurso e a prática.
Eles reconhecem as
contradições existentes na relação escola do campo, escola multisseriado,
fechamento das escolas do campo, sabe que os demais dirigentes precisam também conscientizar-se
disso, mas não coloca isso em pauta, não vai para o embate.
Sabemos que, embora o fazer
pedagógico esteja o tempo todo sendo discutido e construído pelos dirigentes, o
movimento sindical rural no município de Mutuípe não tem uma base de
sustentação teórica, pedagógica e ideológica que paute sua pratica, assim como
no movimento dos trabalhadores sem terra. Sua prática é ainda sustentada pelo
evangelho e ensinamentos da igreja católica.
As ações e práticas do
movimento sindical tem um vínculo fortíssimo com a educação do campo. A sua
luta histórica por direito é marcada por um processo formativo, carregado de
ideologias socialistas, no entanto eles não têm consciência disso, não
conseguem perceber que as suas práticas tem como base os mesmos princípios da
proposta e concepção de educação do campo. Talvez por que desconheçam a
proposta teórica, pedagógica e metodológica da educação do campo.
Os dirigentes que conhecem, ou
que acompanham a discussão de educação do campo, entendem-na enquanto projeto
de luta e de transformação social. Sabem que os processos educativos são sempre
carregados de intenções, e pode ser instrumento de manutenção da estrutura
dominante, ou instrumento de transformação e construção de outro projeto de
sociedade:
Uma política para
manter essa questão da educação com a qualidade que o trabalhador do campo
merece, não depende só de nos, do professor, do aluno, depende de uma serie de
fatores, de uma serie de critérios, que vai de terminar isso. Então para o pai
do aluno e o aluno permanecer no campo
precisa de que? Ele precisa de incentivo, precisa de terra, precisa produzir,
ele precisa comercializar, ele precisa de credito, ele precisa de mercado. O
que é que ele precisa alem disso? Saúde , educação, lazer, moradia digna,
transporte. O que é que nós temos? Nós temos burocracia disfarçada de
incentivo, nós temos, uma lei do PAA que diz que você pode vender, que tem quem
compre, e quando você vai vender você ver que não é aquilo, você tem uma lei de
credito, que só oferece até 2500 reais para o agricultor e ainda diz o que é,
que você tem que produzir, você tem uma política de aquisição de terra , que
diz que você tem direito ao credito fundiário e quando você chega lá não
consegue acessar, então é um processo de exclusão disfarçado de inclusão,
dizendo que você está incluído. Então precisamos em primeiro passo acabar com
essa burocracia, facilitar esses canais. E a sociedade civil organizada tem
esse poder de fazer isso, mas precisa voltar a luta, e a educação do campo pode
ser uma grande aliada nesse processo de construção de uma nova sociedade(DB).
É fantástico a análise crítica
e persistente feita por esse dirigente. Ele compreende que a transformação da
educação, passa pela transformação do campo, requer um projeto verdadeiro de
desenvolvimento para o campo, e que seja pautado pelos próprios trabalhadores.
A maioria dos dirigentes talvez
por desconhecerem o projeto de educação do campo tem dificuldade de olhar a
escola, a educação do campo, enquanto instrumento de luta, de transformação.
Lutam pela educação dos sujeitos do campo, a reconhece como direito que deve
ser garantido pelo estado, mas não a entende como possibilidade de mudança, de transformação da realidade.
Assumem posicionamento
contrario também com relação à aquisição do conhecimento sistematizado. Para
alguns a educação, a formação, o acesso à escola e á universidade é instrumento
importante para os trabalhadores do campo se constituírem enquanto sujeito de
direito, se afirmar como camponês, e ajudar a pensar e construir seu
território. Outros porem, acreditam que o acesso ao conhecimento sistematizado,
cientifico, é um risco, por que separa,
desterritorializa o camponês do seu espaço de vida.
As seguintes declarações confirmam:
É
importante ter acesso ao conhecimento, por que hoje é assim, quem tem o poder
do conhecimento é quem vai pra frente, quem tem informação é quem ganha, é quem
consegue discutir e entender essa sociedade. É por isso que o conhecimento e o
poder da comunicação aida está nas mãos de poucos, da elite que manda nesse
pais[...] tem que pensar que se a educação fosse diferenciada, uma educação
qualificada, em que os alunos se sentissem bem estudando na escola campo, que a
família se sinta assegurada de que seu filho está na escola do campo e não está
sendo ali enrolada, para que um dia possa concorrer um enem , um vestibular com
as mesmas possibilidades que os das cidade (DB)
Outras ideias:
Eu acho assim que o
monitor, o professor que vai dá a educação do campo, ele precisa na sua
metodologia, alem da linguagem urbana, precisa ensinar a plantar e a colher,
por que se for desse jeito a criança vai começar a dá valor a roça e a querer
ficar na roça, por que se for aquela velha história, tu tem que estudar, pra tu
fazer o Enem, o vestibular, pra tu ser é... advogado, doutor ou sei lá o que.
Vai ficar na roça?, uma pessoa dessa vai ficar na roça? Na verdade, o professor
da roça, alem de ser professor deveria
ser um técnico agrícola, para conscientizar os alunos a ficar na roça, de que
forma viver bem na roça, caso contrario ninguém vai querer ficar na roça.(DC)
Tiro isso por minha
filha, ela se criou aqui, mais o que foi que ela quis? Terminou o segundo grau
se mandou para Salvador, não quis ficar, estudar agronomia para cuidar da roça
que o avô deixou, muito pelo contrario, ela quis foi se mandar. Então não tem
mais esse apego pela terra, eu não sei se é... A consciência vem de quem?da
gente pai, da gente mãe ou do meio?(DC)
Eles utilizam a interrogação o
tempo todo, buscando entender as contradições e os problemas presentes no
ensino e na escola do campo, nas suas práticas e na construção de conhecimento,
Esforçam-se para entender a perversidade do sistema capitalista e a
funcionalidade do conhecimento escolar - cientifico.
Precisam entender que as suas
experiências práticas, seus saberes, suas vivencias, confrontado com o saber
cientifico, já construído e em construção, pode ajudar a entender as diversas
contradições que permeiam a vida humana e transformação da realidade concreta.
Por isso adquirir conhecimento é importante. E a escola é um dos espaços de
formação humana, “é um lugar fundamental de educação do povo, exatamente por
que se constitui como um tempo e como um espaço de processos socioculturais,
que interferem significativamente na formação e no fortalecimento dos sujeitos
sociais que dela participam” (Caldart, 2004, p.91).
Precisamos descobrir
possibilidade de alteração na lógica da escola hegemônica, desenvolver nos
sujeitos que adentram a escola, capacidades e habilidades para pensar a
realidade atual, as relações sociais de produção da vida, superar o processo
formativo dos sujeitos que separa conhecimento escolar – cientifico, dos
conhecimentos práticos, dos saberes, e da experiência de vida.
É
nítida a reservada expectativa em relação à educação do campo que alguns dos
dirigentes trazem;
Eu acho assim, que está educação que estamos conversando aqui,
refletindo aqui. É o caminho para uma revolução na educação e na vida dos
trabalhadores rurais. Por que isso que estamos refletindo aqui, agora, está se
discutindo em alguns lugares desse país, poucos lugares. Poucas pessoas estão
discutindo a educação do campo. Que está discutindo mais é os movimentos
sociais, vai nas universidades poucos pessoas estão discutindo isso, Mas é um
sinal, de que em alguns lugares estão discutindo isso. Mutuipe pegou um grupo
de professores para estudar a educação do campo, onde está essas pessoas?tão se
juntando aonde e com quem para discutir? Então assim, de que forma discutir
para que de fato ela chegue no campo da realidade, no campo da diversidade,,
pra gente de fato ter esse aparato de inclusão do campo para o campo. Eu vejo
assim se as famílias lá no campo não entender que os filhos dele no campo é
importante, que a escola na roça é importante, que o campo é importante, não
vai adiantar a gente ficar aqui
discutido a educação do campo. (DA)
Por
isso a urgência na construção de novos projetos educativos voltados para as
especificidades do campo e de seus sujeitos, suas vivências, identidades,
valores, culturas, sonhos e utopias, considerando a realidade complexa,
diversificada e heterogênea que envolve o campo, como também as profundas
transformações sociais, culturais, políticas, econômicas e ambientais ocorridas
tanto no campo quanto na cidade em decorrência dos avanços científicos e
tecnológicos que provocam profundas mudanças.
Identificamos que a proposta de educação do campo se
materializa o tempo todo no movimento de luta do SINTRAF, mas passa a ser
pautado concretamente em 1998 com o projeto de elevação de escolaridade, Semear,
desenvolvido pela parceria FASE – FETRAF e Secretarias municipais, que objetiva fortalecer e ampliar o acesso e
permanência de dirigentes sindicais e
jovens agricultores familiares no sistema formal de ensino, através de
uma proposta pedagógica de alternância, diferenciada da escola formal,
possibilitando a construção do conhecimento através da articulação entre as
experiências de vida, da luta social, e do mundo do trabalho dos sujeitos do
campo.
O sindicato é mais do que uma escola, é mais do que um
centro de formação, por que ele forma não só para ler e escrever, não só pra
trabalhar na enxada, mas ele forma pra vida, e eu fui formado lá e continuo
aprendendo, fazendo. A gente nunca para de aprender dentro de uma entidade
sindical (DB).
Em 98 já começou a questão do semear discutir o
projeto de educação do campo, com uma turma de elevação de escolaridade, com agricultores que não
tiveram oportunidade de concluir os estudos. Em 2001 teve a segunda turma do
projeto semear, cinco pessoas de Mutuipe entre diretor e agricultor, participou
dessa escola. Ai iniciou os projetos de
educação do campo. E a partir daí isso foi criando grande conotação dentro dos
sindicatos. E se muitas políticas publicas chegaram, se muitas coisas mudaram
de lá pra cá, inclusive esse pensamento da educação do campo é por que nós foi
buscar, não caiu do céu não, nos brigamos, nos organizamos nossos grupos na
sociedade para poder a gente ir buscar essas mudanças, que não são da noite pro
dia, de cima para baixo, depende do campo, da cidade, mas a gente continua na
luta e não desiste, inclusive agora estamos com (DA).
A fala desse entrevistado nos proporcionou a
descoberta do projeto SEMEAR, ficando claro que este projeto, além de
contribuir para inclusão de trabalhadores do campo na educação básica, abriu
caminhos para a profissionalização camponesa e o desenvolvimento da agricultura
Familiar no município de Mutuípe e na região do vale do Jequiriça (Salvador,
2001).
Algumas considerações:
A
educação do campo é o campo das interrogações, dos conflitos, das incertezas,
das inconclusões e por que não dizer, dos riscos? Que bom ser assim. Teria
graça se tudo já tivesse dito, escrito, pronto e acabado? Sinto-me autorizada a
tecer algumas considerações sobre o trabalho e autorizo outrem.
Ao
compreender por meio dessa pesquisa as contradições presente no campo, os
processos da proposta e concepção de educação do campo, bem como a educação do
campo no contexto da história de luta e organização da classe trabalhadora do
campo através do movimento sindical rural é possível dizer que :
A
educação, ela é multilateral e se constitui nas mais diversas formas, e jeitos,
a partir de distintas, concepções ideológicas, teóricas, pedagógicas,
metodológicas e se constrói o tempo todo, dentro e fora da escola. Resta
entender-nos a educação, seu papel, sua funcionalidade e sua importância,
considerando os distintos processos e projetos educativos presente na história
passada, e na história atual para construirmos novos projetos educativos.
Baseado num conhecimento que capacite os sujeitos do campo e da cidade a se conhecer, a conhecer o outro, o meio em
que vive, sua história e seu tempo, a mudar sua própria condição, construindo
outras relações humanas, sociais, políticas, culturais, ambientais, econômicas,
enfim outra sociedade.
O que nos faz afirmar que o
SINTRAF de Mutuípe se constitui movimento educativo? Sua capacidade coletiva de
construir e organizar um conhecimento que possibilitou e possibilita aos
trabalhadores e trabalhadores do campo, mobiliza-se, organiza-se, lutar por
direitos, por políticas publicas, a viver no campo, produzindo alimento,
trabalho, renda, vida. A relacionando-se com o meio e com o outro, garantindo a
sua sobrevivência. No entanto, os dirigentes sindicais não tem consciência de
que a sua prática constrói todo esse conhecimento, envolve e é envolvido pela
educação. A educação para eles está muito relacionado a escola, ao conhecimento
estático, pronto, e por isso separado, distante deles.
A educação construída por
esses sujeitos está muito relacionada a educação popular, a educação do campo,
por que ela não está dentro de uma padronização educacional, ela é
protagonizada pela classe popular trabalhadora, são os sujeitos do campo, o movimento popular quem a constrói. Só não
me arriscaria a afirmar aqui que o processo formativo/educativo construído no
SINTRAF de Mutuipe é libertário e emancipador, por que apesar de reconhecermos
que a um esforço para transformar e construir novas relações humanas, sociais,
econômicas, ambientais, políticas para o capo, a libertação e emancipação dos
sujeitos requer uma ação mais radical, requer a superação do modelo
capitalista. E responder a essa questão demandaria outra pesquisa,
Apesar das contradições
existentes no movimento sindical acreditamos que este, é extremamente
importante na construção desse novo projeto de sociedade, pautado pela Educação
do Campo. Contudo não podemos perder de vista que os sujeitos da pesquisa é
fruto de um sistema opressor, excludente, segregador, ainda carecidos de
conscientização, capacitação, e emponderamento. Para de fato serrem incluídos
no debate e construção do novo projeto de sociedade. Acreditamos
ser necessário tornar visível, conhecida nos quatros canto do mundo a proposta
de Educação do Campo, já que a mesma nos desafia a construir um projeto de
educação que concebe a afirmação e emancipação dos sujeitos como elemento
crucial no processo de transformação social da realidade do campo e para além
do campo, a construção de um novo projeto de sociedade que precisa ser
pensado a partir da transformação da escola.
A pesquisa deixou a impressão
de que a luta não é mais de classe, isto é, não se luta mais com a mesma
intencionalidade classista. No inicio da história do SINTRAF a luta era por
direito, e tinha-se, a consciência disto, os dirigentes tinham claro que
existiam “dois lados da moeda”, de um lado estava a classe trabalhadora e do
outro a classe burguesa. Hoje, já não é possível visualizar claramente os
distintos projetos de desenvolvimento posto para o país. É como se existisse
apenas um, e nós fossemos obrigados a acompanha-lo, adaptar-se a esse modelo
moderno de desenvolvimento, caso contrario vamos ficando atrasados, como não
queremos ficar para trás, vamos, nos, sujeitando ao capital.
Há até o reconhecimento, por
parte dos dirigentes, de que, as políticas publicas advindas de nossas lutas e
implementadas pelo estado, é contraditória, burocrática e dificilmente acessada
pelos trabalhadores. Inclusive as políticas públicas postas para agricultura
familiar e para educação do campo têm sido questionadas sobre a sua real funcionalidade:
De fato elas são políticas públicas? Ou serve como “massa de manobra” da classe
trabalhadora? Como pode ser pública, se é o estado quem dita as regras, é quem
controla?
É fato que a racionalidade
econômica predominante é a do capitalismo. Então, lutar somente por políticas
públicas resolve? Se os próprios dirigentes afirmam que as políticas públicas
destinadas a agricultura familiar são mentirosas, enganosas. Se, temos
esperança de construir um projeto libertário e emancipador, podemos caminhar do
mesmo lado do capital? Parece-nos que o caminho a seguir tem que ser outro.
Os dirigentes que estão no
movimento a um período menor de tempo deixou transparecer a não consciência de
que o movimento sindical deveria ser anticapitalista e contra hegemônico, que a
luta deveria ser de classe. E os dirigentes que estão na militância sindical no
município desde seu inicio, embora tenha essa clareza, não tem pautado esse
debate, não tem construído caminhos para construção desse projeto
anticapitalista, contra hegemônico.
Em outras palavras, há uma
contradição centrada no movimento sindical rural. Por um lado, o sindicato se
comporta como tal, na organização e mobilização dos trabalhadores do campo, na
luta por credito, assistência técnica, organização política, direitos
trabalhistas, políticas públicas para agricultura familiar, por outro, há um
conformismo e adequação junto às políticas de estado, passando a executar e
aceitar regras dos programas de governo, o que tem imobilizado e restringido a
luta pela transformação da realidade camponesa como um todo.
Percebemos que há um
esvaziamento político e ideológico no discurso dos dirigentes sindical. A luta
do SINTRAF já não tem mais o mesmo vigor, sua manifestação é tímida e quase
invisibilizada. Paralisou-se o embate contra a classe dominante? Será que o
processo hegemônico do capital está consolidado?Estas são perguntas que o
trabalho não dá conta de responder, seria necessário aprofundar a pesquisa.
Constatamos que o conhecimento
a cerca da educação do campo é limitado, eles desconhecem a proposta e
concepção de educação do campo, a legislação e as políticas públicas de
educação do campo. Seu conhecimento sobre educação do campo ainda é muito
limitado e por isso seu entendimento também o é. Tem como referencia a
instrução escolar para pensar a educação dos sujeitos do campo.
O movimento sindical também
tem se constituído como espaço de poder. E onde há poder, há disputas, há
limites, há conflitos, há tensões. Essa relação de poder impulsiona o movimento
a se fechar às novas ideias, e posturas, de modo que, o posicionamento
contrário de alguns, significa perseguição política, disputa de espaço, disputa
de poder. Notamos que a avaliação critica feita ao movimento sindical, por
alguns dirigentes é mal entendida, distorcida, e a ação - reflexão – ação,
tratada por Freire (1983), torna-se dificultosa.
Dificilmente a “comunicação
dialógica” vai acontecer e sem isso não será possível construir um projeto de
sociedade da classe trabalhadora. Diz
Paulo Freire: “ser dialógico, para o humanismo verdadeiro, não é dizer-se
descomprometidamente dialógico; é vivenciar o diálogo. Ser dialógico é não
invadir, é não manipular, é não sloganizar. Ser dialógico é empenhar-se na
transformação constante da realidade”(Freire, 1983)
.Interessa-nos uma base
alienada? Nossa análise em momento algum pretendeu desautorizar o movimento
sindical, ao contrario, pretendeu despertá-los, inquieta-los, mobiliza-los a
construir espaços de reflexão da sua própria ação.
Enfim afirmamos o nosso compromisso
com a construção de um novo projeto de campo, de educação do campo e de
sociedade nos propondo a construir novos espaços de diálogos a cerca da
proposta e concepção de educação do campo, no SINTRAF para juntos apontarmos
possíveis caminhos de superação das mais diversas contradições.
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>Consultada em 10 de agosto de 2013.
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Consultada em 10 de agosto de 2013.
Disponível
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11326.htm>
Consultada em 09 de setembro de 2013.
Apêndice
A – Roteiro de Entrevista
Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia
Centro de Formação de
Professores
Licenciatura em
Pedagogia
Tema
A Educação do Campo sob a ótica do
Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (SINTRAF) – Mutuípe-Ba
Roteiro de Entrevista -
Grupo Focal
|
1.2 Quem são os sujeitos da pesquisa
1.3 Residência
1.4 Faixa
etária
1.5 Sexo
(maioria)
2. Formação Educacional;
2.1 Se
frequentou a escola
2.2 Quanto
tempo frequentou
2.3 Rede
de Ensino
2.4 Tipo
de ensino (educação básica/modalidade)
2.5 Se
fez algum curso de formação em outras áreas de conhecimento.
3 Campo
na ótica do SINTRAF
3.1
Principal bandeira de luta do SINTRAF de Mutuipe.
3.2
Marca/característica do campo onde o SINTRAF atua
3.3
Contradições existentes no Campo onde o SINTRAF atua.
3.4
Modelo de desenvolvimento predominante no campo onde o SINTRAF atua
3.5
Modelo de desenvolvimento de Campo que o SINTRAF de Mutuipe defende.
3.6
Ações políticas desenvolvidas pelo SINTRAF para alcançar/ construir esse modelo
de desenvolvimento para o Campo.
4 Educação do Campo e Políticas públicas na
ótica do SINTRAF
4.1 Se
existe/ou existiu alguma experiência, ação ou atividade do sindicato voltada
para Educação do campo.
4.2 Se
existe quais os efeitos dessa experiência para o campo da agricultura familiar
4.3 Grau
de importância da educação escolar. (se reconhece a educação como direito)
4.4 A
educação que hoje temos acesso contempla e atende as necessidades do campo e da
agricultura familiar
4.5 Principais
desafios para adequar o ensino as necessidades do campo
4.6 Reconhecimento do SINTRAF no movimento e
construção e da proposta e concepção de Educação do Campo.
4.7 Se
conhece ou já ouviram falar sobre a legislação e as política publicas de
Educação do campo.
4.8 Trato
as políticas públicas nos processos de luta do SINTRAF.
4.9 Ciência
da relação entre projeto político, projeto de educação do campo, projeto de
desenvolvimento do campo e projeto de sociedade.
4.10
De que forma se materializa o
projeto político e de desenvolvimento do campo dentro do movimento (SINTRAF).
4.11
De que forma se materializa os
projetos de formação humana e emancipação dos sujeitos do campo dentro do
Movimento (SINTRAF).
Apêndice B – Planejamento da
Ação
Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia
Centro de Formação de
Professores
Licenciatura em
Pedagogia
Tema
A Educação do Campo sob a ótica do
Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (SINTRAF) – Mutuípe-Ba.
GRUPO FOCAL
Planejamento da Ação
|
PRIMEIRO
MOMENTO:
Ø
Contatar o coordenador do SINTRAF e apresentar o
projeto de pesquisa e a proposta de trabalho
Ø
Construir o plano de execução definindo com eles a
operacionalização (datas, horários, local da realização).
Ø Selecionar
oito (08) dirigentes do SINTRAF para participar das discussões no grupo focal,
obedecendo aos seguintes critérios: incluir dirigentes jovens, mulheres e
homens, de diferentes períodos de militância sindical.
SEGUNDO
MOMENTO
Tema para discussão: Campo,
Contradições e possibilidades.
Tempo Estimado: Três horas.
Procedimentos Metodológicos:
Ø
Iniciar covidando o grupo a
senta-se em circulo;
Ø
Fazer exposição dos objetivos
da pesquisa (slide);
Ø
Fazer a apresentação da metodologia
do dia de trabalho (slide);
Ø
Realizar a dinâmica: Circulo
Mágico;
Ø
Exposição de imagens (fotografias e charges) e exibição de
vídeo (Retrato das contradições existentes no campo brasileiro);
Recursos: Data show, gravador, filmadora, balões de
gás cheios, com mensagens dentro, e pendurados pela sala,
Desenvolvimento metodológico:
Ø
Inicialmente vamos covidar os dirigentes a
sentar-se em circulo, logo após apresentar os objetivos da pesquisa e a
metodologia de trabalho. Em seguida, com o objetivo de abrir os trabalhos,
promovendo a Integração entre os participantes, a partir de um clima receptivo
e amoroso, realizaremos a dinâmica: circulo mágico.
Ø
Iniciaremos a dinâmica falando da importância do
está em circulo (A forma circular vem nos acompanhando ao longo da história,
nas rodas cantadas, de conversas, na forma da lua cheia, do sol, da terra e da
bola. No Círculo enxergamos a todos, ficamos no mesmo plano, podemos olhar
aqueles que estão perto de nós e os mais distantes. Não há o primeiro, nem o
último. Nele somos todos iguais. Quando entramos no Círculo não estamos
disputando liderança. Estamos confiando um nos outros, esses dias vamos estar
sempre em um círculo. Desta forma podemos trabalhar com mais qualidade,
enxergando a todos e tendo oportunidades iguais de participação)
Ø
Logo depois vamos covidar a todos para em circulo e
de pé estenderam as mãos. Falaremos sobre a importância de relacionarmos uns
com os outros (A mão direita simboliza nossa capacidade de ajudar, deve estar
por cima da mão esquerda do colega. A mão esquerda recebendo a direita do outro
simboliza nossa necessidade de troca, de receber. Ao mesmo tempo em que podemos
ajudar, precisamos receber ajuda. Nenhum de nós é tão forte para somente ajudar
ou tão fraco que somente receba ajuda. A sinergia está no equilíbrio entre
pedir, dar e receber colaboração)
Ø
Cada participante deverá escolher um dos balões que
estarão espalhado no espaço, estourar e lê
para o grupo a mensagem que estará dentro do balão ( dentro do Balão
estará escrita as seguintes frases: Nossa diferença nos iguala; Temos os mesmos
direitos; todos nós temos vez e voz; Aqui não cabe o autoritarismo; Expulsemos
do Círculo a desmotivação; Para nós a competição não faz sentido; O exercício
do ouvir e ser ouvido é indispensável; Cada um tem seu jeito de expressa-se,
Expulsemos as forças negativas; Não perderemos de vista nossa força e nossa
união)
Ø
Após dinâmica problematizaremos o tema a partir da
exposição de imagens (fotografias e charges) e exibição de vídeo (Agronegócio – Problemas atuais)
retratando as contradições existentes no campo Brasileiro.
Ø
Solicitaremos que o grupo considerando as imagens e
o vídeo, relatem o que pensam, sentem, imaginam, comparando e relacionando com
a realidade camponesa observada no seu
município. (na medida em que eles forem
construído as suas ideias, vamos questionado-os, problematizando-os)
Imagens utilizadas:
TERCEIRO
MOMENTO
Tema para Discussão: Educação
X política pública
Tema Estimado: Três horas.
Procedimentos Metodológicos:
Ø
Iniciar covidando o grupo a
senta-se em circulo;
Ø
Fazer a apresentação da
metodologia do dia de trabalho (slide);
Ø
Realizar a dinâmica: Abra o
olho meu irmão
Ø
Exposição de imagens (fotografias e charges) e exibição de
vídeo (Retrato das contradições existentes no campo brasileiro);
Ø
Avaliação do dia de trabalho;
Recursos: Data show, gravador, filmadora, venda
para os olhos, jornais enrolados em forma de cassetetes.
Desenvolvimento metodológico:
Ø Covidar o
grupo para participar da dinâmica: Abra o olho meu irmão. A dinâmica tem como
objetivo a tomada de consciência da luta desigual que enfrentamos em nossa
sociedade.
Ø Covidaremos dois voluntários que terão os olhos vendados e devem receber
um chinelo ou porrete de Jornal. Depois devem iniciar uma briga de cegos, para ver
quem acerta mais o outro.. O restante do grupo apenas assiste. Assim que inicia
a "briga", daremos sinal para o grupo não se manifestar só observar o
que acontece, desamarraremos a venda dos
olhos de um dos voluntários e incentivamos a continuar na briga. Depois de
tempo suficiente para que os resultados das duas situações sejam bem
observados, retiraremos a venda do outro voluntário e encerra a experiência.
Ø Abriremos um debate sobre o que se presenciou considerando o contexto da
sociedade atual e as discussões traçadas no grupo. A reação dos participantes
pode ser variada. Por isso é conveniente refletir algumas posturas como:
indiferença, indignação, aplaudir o agressor, posiciona-se para defender o indefeso, “lavar” as mãos; envolver-se, solidariza-se com o
oprimido, etc. Faremos alguns questionamentos para ajudar no debate.
Perguntaremos aos voluntários como se sentiram
e o porquê. Depois dar a palavra aos demais participantes. Qual foi a postura
do grupo? Para quem torceram? O que isso tem a ver com nossa realidade?
Quais as cegueiras que enfrentamos hoje? O
que significa ter os olhos vendados? Quem estabelece as regras do jogo da vida
social, política e econômica hoje? Como podemos contribuir para
tirar as vendas dos olhos daqueles que não enxergam? Situaremos o debate para
dentro do tema: Educação do Campo e Políticas Públicas.
Ø Após
dinâmica distribuiremos a letra da música: não vou sair do campo, de Gilvan
Santos, faremos uma leitura coletiva da letra da musica. Sondaremos se eles
conhecem a música.
Ø Solicitaremos
que eles digam o que a música sucinta, Retrata, Fazem-nos refletir?
Eles deverão construir uma relação entre a música e o tema de trabalho. À
medida que eles forem falando vamos levantando questões direcionadas aos
objetivos da pesquisa.
Letra
da música
Não Vou Sair do Campo
Não
vou sair do campo
Pra poder ir pra escola
Educação do campo
É direito e não esmola
O povo camponês
O homem e a mulher
O negro quilombola
Com seu canto de afoxé
Ticuna, Caeté
Castanheiros, seringueiros
Pescadores e posseiros
Nesta luta estão de pé
Cultura e produção
Sujeitos da cultura
A nossa agricultura
Pro bem da população
Construir uma nação
Construir soberania
Pra viver o novo dia
Com mais humanização
Quem vive da floresta
Dos rios e dos mares
De todos os lugares
Onde o sol faz uma fresta
Quem a sua força empresta
Nos quilombos nas aldeias
E quem na terra semeia
Venha aqui fazer a festa.
Pra poder ir pra escola
Educação do campo
É direito e não esmola
O povo camponês
O homem e a mulher
O negro quilombola
Com seu canto de afoxé
Ticuna, Caeté
Castanheiros, seringueiros
Pescadores e posseiros
Nesta luta estão de pé
Cultura e produção
Sujeitos da cultura
A nossa agricultura
Pro bem da população
Construir uma nação
Construir soberania
Pra viver o novo dia
Com mais humanização
Quem vive da floresta
Dos rios e dos mares
De todos os lugares
Onde o sol faz uma fresta
Quem a sua força empresta
Nos quilombos nas aldeias
E quem na terra semeia
Venha aqui fazer a festa.
Gilvan Santos
Anexo A
Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia
Centro de Formação de
Professores
Licenciatura em
Pedagogia
CARTA DE APRESENTAÇÃO DO PESQUISADOR
Mutuipe, 29 de Junho de
2013.
Ao Senhor:
Roque dos Santos Filho
Coordenador
Geral
Sindicato
dos Trabalhadores na Agricultura Familiar - SINTRAF
Mutuípe-Ba.
Prezado Coordenador,
Por
meio desta apresentamos a acadêmica Cristina Suedy dos Santos Sousa, estudante
do VIII semestre do Curso de Licenciatura em Pedagogia, devidamente matriculada
nesta instituição de ensino, que estará realizando a pesquisa intitulada A Educação do Campo sob a Ótica do
Sindicato dos trabalhadores na Agricultura Familiar (SINTRAF) de Mutuipe, sob
a orientação da professora Dª. Silvana Lucia Silva Lima, com o objetivo de
entender como os dirigentes sindicais entendem a Educação dos sujeitos do
Campo. As informações a serem oferecidas para a pesquisadora serão guardadas
pelo tempo que determinar a pesquisa e não serão utilizadas em prejuízo desta
instituição e/ou das pessoas envolvidas, inclusive na forma de danos à estima,
prestígio e/ou prejuízo econômico e/ou financeiro. Além disso, durante ou
depois da pesquisa é garantido o anonimato de tais informações.
Agradecemos
antecipadamente vossa compreensão e colaboração no processo de desenvolvimento
da pesquisa científica em nossa região.
_________________________________________________
Drª. Silvana Lucia Silva Lima
Professor (a) Orientado
(a)
_________________________________________________
Cristina Suedy dos Santos Sousa
Aluno
(a) Pesquisador (a)
Nº da
Matricula: 200920020
Anexo
B
Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia
Centro de Formação de
Professores
Licenciatura em
Pedagogia
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Titulo
da pesquisa:
A
Educação do Campo sob a ótica do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura
Familiar – FETRAF –Mutuípe-Ba.
Sindicato
Dos Trabalhadores na Agricultura Familiar
Prezados
(as) Senhores (as):
Gostaríamos
de convidá-los (as) a participar da pesquisa A Educação do Campo sob a ótica do Sindicato dos Trabalhadores na
Agricultura Familiar – SINTRAF de Mutuípe-Ba. O objetivo da pesquisa é
entender como o SINTRAF entende a educação dos sujeitos do campo. A participação dos dirigentes é muito
importante e se dará da seguinte maneira: em grupo de oito dirigentes (incluir
dirigentes que está no movimento desde a sua fundação - 26/08/1986,
dirigentes que estão no movimento há 12 anos e dirigentes que estão no
movimento na gestão atual (2011 a 2014)
discutir o tema Campo, Política Publica e Educação, e se necessário responder
coletivamente as questões previamente elaborada pela pesquisadora. As
discussões serão filmada e gravada. Gostaríamos de esclarecer que a vossa
participação é totalmente voluntária, podendo vocês: recusar-se a participar,
ou mesmo desistir a qualquer momento sem que isto acarrete qualquer ônus ou
prejuízo à pessoa. Informamos ainda que as informações serão utilizadas somente
para os fins desta pesquisa e serão tratadas com o mais absoluto sigilo e
confidencialidade, de modo a preservar a identidade dos participantes. Os
registros gravados serão utilizado pela pesquisadora somente para facilitar a
análise dos dados, não havendo intenção nenhuma de publicá-los. Informamos que
os(as) senhores(as) não pagarão nem serão remunerados pela participação.
Caso os(as) senhores(as) tenham dúvidas ou
necessitem de maiores esclarecimentos pode nos contactar (Cristina Suedy dos santos Sousa, Rua Cônego
Leão nº 26 - Centro – Mutuipe-Ba, Tel.
(75) 88396465, E-MAIL.
cristinasuedy@gmail.com).
Mutuípe,
28 de junho de 2013.
_____________________________________________________
Responsável Legal
Roque dos Santos Filho
Coordenador do SINTRAF
[1]
Constatado nas atas da entidade e no próprio estatuto.
[2]
Ver Caldart, Pereira, Alentejano e Frigotto (2012, p.97).
[3]
Nota: Mundo em convulsão 10/06/2013 22h57 In:
HTTP://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/not...
[4]
Termo classificatório construído como
produto de ação política , isto é através da mobilização política dos
trabalhadores do campo (DEC, 2012)
[5]
Aqui território é entendido como “espaço de vida do camponês. É o lugar ou os
lugares onde uma diversidade de culturas camponesas constrói sua existência”
(DEC,2012)
[6]
Sustentabilidade enquanto atributo da agricultura familiar camponesa e em
contraponto ao desenvolvimento sustentável enquanto discurso apropriado do
capital na disputa ideológica(DEC, 2012)
[7]
Jargão utilizado para dizer que a terra é bem distribuída, que todos os
agricultores tem área suficiente e que
não existe no município a concentração de terra.
[8]
Entendida aqui não no sentido real do termo, mas enquanto área (pequena
extensão)-
[9] É um dispositivo que
determina o que é uma propriedade pequena, média ou grande, entendendo que para
essa determinação é considerado não só o tamanho real do imóvel, mas outros
fatores como o tipo de exploração da propriedade, o tipo de lavoura
(permanente, temporária ou florestal), condição de produção, dinâmica de
mercado, renda obtida pela propriedade, entre outros elementos, portanto há uma
variação por município.
[10]
Dizer popular que se refere a preço baixo.
[11]Visando
o mercado consumidor.
[12]
Que deve “ser universal, referi-se a todos os seres humanos, independentemente
da sua condição social” (ver verbete sobre política pública em Dicionário de
Educação do Campo, 2012).
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