Páginas

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Luta contra a implantação da Usina Nuclear em Poço Redondo, Sergipe

É NUCLEAR? NÃO, OBRIGADO!
13 de janeiro de 2016
Por Damião Rodrigues*
Nos últimos anos o Governo brasileiro resolveu retomar o programa nuclear brasileiro, além das usinas Angra 1, Angra 2 e a Angra 3, a última em fase de construção, a proposta é construir mais 4 usinas nucleares no país, sendo que duas delas no Nordeste. A região escolhida por apresentar vários fatores favoráveis a instalação é na região do Rio São Francisco, uma delas já está com o local praticamente definido, será no município de Itacuruba no estado de Pernambuco nas margens do São Francisco e a outra está em fase de estudo. Possivelmente será construída no estado de Sergipe, mais precisamente no Sertão Sergipano. Os municípios de Poço Redondo, Porto da Folha e Gararu estão entre os municípios mais cotados para receber esse grande projeto de central nuclear.
Há décadas que o sertanejo vive na expectativa que se faça algo concreto para que se possam resolver os problemas históricos que vive essa região. São inúmeras as injustiças sociais, até aqui não foram feitos grandes investimentos para a prática de convívio e adaptação com a seca, até hoje milhares de camponeses não dispõem de abastecimento de água até para seu próprio consumo humano, mesmo morando a poucos quilômetros do Rio São Francisco, e é com muita resistência e luta que esse povo vive todos os dias para que um dia venha de fato a ter oportunidade de romper de vez todo esse descaso social.
Enquanto não se investe em grandes projetos de sobrevivência os sertanejos assistem de perto a real possibilidade de ser construída uma central nuclear na região, um ambicioso projeto onde existe por trás disso tudo diversos interesses empresariais e econômicos, além de representar uma grandiosa ameaça ao já tão sofrido Rio São Francisco, pois suas águas serão usadas para o resfriamento dos reatores da usina, voltando assim para o leito do rio numa temperatura bastante elevada exterminando de vez as poucas espécies de peixes que ainda existem. Sem falar da expulsão de Camponeses e Ribeirinhos de suas terras, transformando assim de vez a vida social, cultural e ambiental da região, povo esse que há anos vem sofrendo com as péssimas heranças que a usina hidrelétrica de Xingó deixou após sua conclusão e sua operação no ano de 1994.
O sertanejo jamais pôde imaginar que um dia tivesse a triste realidade de conviver de perto com a possibilidade de um grave acidente nuclear, repetindo um lamentável filme que viveu e até hoje vive o povo de Chernobyl na Ucrânia, onde um acidente nuclear no ano de 1987 erradicou do mapa a região deixando vários mortos e inúmeras marcas no corpo e na alma daquele povo, que mesmo 28 anos depois ainda convive o real perigo da alta radioatividade. E mais, quem não lembra o que aconteceu em Fukushima no Japão no ano de 2012, onde uma tsunami destruiu quase que por completo uma usina nuclear que até hoje pouco se fala dos problemas radioativos que atingiu aquela região e o seu povo.
A instalação de usinas nucleares no Brasil e principalmente na região do São Francisco é um tema que deve ser bastante discutido entre a sociedade, pois é um modelo energético que vem trazendo bastantes divergências entre aqueles que é contra e os que defendem esse modelo de geração de energia. Principalmente no Brasil, país que apresenta condições climáticas bastante favoráveis a introdução e prática de um modelo energético renováveis e quase 100% limpa, a exemplo da energia solar e a eólica, e claro no Nordeste por sua vez é uma região onde esses fatores climáticos mais favorecem a esses modelos energéticos por ter sol e vento praticamente o ano inteiro. Portando, quando se trata de projetos nessa dimensão a população sempre é colocada de fora dos debates e como de costume quase sempre não fica sabendo de nada do que está acontecendo.
Fica claro que de fato a região não está nem um pouco preparada para receber um projeto com tal dimensão, onde as usinas nucleares geram vários fatores que trazem preocupação até que finalmente venha a produzir energia. Por exemplo, o lixo nuclear que até hoje não se encontrou um local totalmente seguro para seu armazenamento e trazem consigo um alto teor de radiação por dezenas de anos. Será que iremos nos torna em uma futura Mariana? E nossas estradas são seguras para o transporte desse lixo? As estruturas sociais e principalmente a de saúde estão preparadas para um ocasional acidente? Portanto são varias indagações que há em torno desse projeto de instalação de centrais nucleares na região deixando cada vez mais incerta a vida dos camponeses, ribeirinhos, indígenas, quilombolas, povos tradicionais e todo sertanejo que tanto tem lutado para se ter o básico de sua sobrevivência.
O que nos resta é nos organizar, puxar o debate com a população, mobilizar todo nosso povo para tentar ao máximo barrar esse absurdo projeto ameaçador da vida social, ambiental e cultural da nossa região. Precisamos afastar de vez a possibilidade de construção de usinas nucleares no Brasil, uma verdadeira máquina de exterminar ser humano e meio ambiente.

*Damião Rodrigues é Agente de Saúde do município de Poço Redondo e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)

Nenhum comentário:

Postar um comentário